Jornal Lampião da Esquina


Jornal Lampião da Esquina
O Lampião da Esquina, foi um jornal mensal que circulou nas bancas de todo o Brasil entre os anos de 1978 e 1981 – período do dito ‘abrandamento’ da ditadura militar. Edições originais do jornal foram exibidas na mostra Os corpos são as obras, gentilmente cedidas pelo grupo Arco Íris. As edições completas do jornal em formato digital, estão disponíveis para download, e em formato PDF pesquisável por palavra-chave, no arquivo do Centro de Documentação Pr. Dr. Luiz Mott do grupo Dignidade.
Com tiragem aproximada de 15.000 exemplares, em suas 38 edições, a publicação, parte da chamada imprensa alternativa, que se autodenominava ‘homossexual’, tratou, com profundidade jornalística, de questões políticas urgentes sobre repressão e liberdades não somente das populações ‘gueis’ (formação predominante do seu conselho editorial), mas também de travestis, lésbicas, negrxs, mulheres e povos originários.
O Lampião é documento vivo do início da articulação e formação de muitos grupos e movimentos ativistas ‘desviados, entendidos’ e feministas, em São Paulo e outras regiões do país. Em suas páginas estavam presentes também questões que vão da masculinização das bichas, à mapas de pegação sexual no centro de São Paulo, da perseguição a frequentadores de cinemas pornô à matança sistemática das travestis, da literatura lésbica de Cassandra Rios e a música de Leci Brandão à arte de Ney Matogrosso e Darcy Penteado.
No editorial de sua primeira edição de abril de 1978, o jornal anunciava, sua posição política sobre a questão homossexual, defendendo que
“é preciso dizer não ao gueto, e, em consequência, sair dele. O que nos interessa é destruir a imagem-padrão que se faz do homossexual, segundo a qual ele é um ser que vive nas sombras, que prefere a noite, que encara a sua preferência sexual como uma espécie de maldição […] o que LAMPIÃO reivindica em nome dessa minoria é não apenas se assumir e ser aceito – o que nós queremos é resgatar essa condição que todas as sociedades construídas em bases machistas lhes negou: o fato de que os ‘homossexuais’ são seres humanos. […] Pretendemos, também, ir mais longe, dando voz a todos os grupos injustamente discriminados – dos negros, índios, mulheres, às minorias étnicas do Curdistão: abaixo os guetos e o sistema (disfarçado) de párias.”
Edições do Lampião da Esquina

Edições do Jornal O Lampião da Esquina expostas na mostra Os Corpos são as Obras no espaço Despina, Rio de Janeiro em 2017. Acervo: Grupo Arco-Íris
Pesquisas sobre o Lampião
Imprensa homossexual: surge o Lampião da Esquina
Carlos Ferreira.
Este artigo, através do contexto histórico da Imprensa Alternativa e da abertura política pós-Regime Militar (instalado em 1964), tem como objetivo analisar a criação, organização, distribuição e o relacionamento com os leitores das primeiras edições do jornal Lampião da Esquina, uma publicação voltada aos homossexuais que circulou durante 1978 e 1981. Utilizando as pesquisas, bibliográfica e documental, percebemos que o Lampião foi um jornal crítico, pluralista e partidário, que expôs o descaso e preconceito contra os homossexuais e as minorias sociais
Sexualidade homossexual no jornal Lampião da Esquina
Natanael de Freitas Silva e Natam Felipe de Assis Rubio
Artigo. Discutir e apresentar como as homossexualidades foram tematizadas, nomeadas e significadas no Brasil durante os anos 1978-1981. E para isso, iremos apresentar um debate historiográfico sobre o tema a partir de bibliografia pertinente, em seguida, enfatizamos o que era dito e entendido por homossexualidade à época, e por fim, exemplificamos como o Lampião da Esquina teceu e comunicou outros olhares sobre as homossexualidades.
Será que ele é? Sobre quando Lampião da Esquina colocou as cartas na mesa.
Marcio Leopoldo Gomes Bandeira
Dissertação de mestrado. A presente pesquisa tem por tema a problematização das subjetividades homossexuais em práticas de escrever cartas, enviá-las a um jornal e tê-las, posteriormente, publicadas. O jornal Lampião da Esquina circulou entre os anos de 1978 e 1981 por diferentes cidades brasileiras e publicou regularmente uma seção de cartas chamada Cartas na Mesa – corpus documental privilegiado nesta investigação.
O Lampião da Esquina, foi um jornal mensal que circulou nas bancas de todo o Brasil entre os anos de 1978 e 1981 – período do dito ‘abrandamento’ da ditadura militar. Edições originais do jornal foram exibidas na mostra Os corpos são as obras, gentilmente cedidas pelo grupo Arco Íris. As edições completas do jornal em formato digital, estão disponíveis para download, e em formato PDF pesquisável por palavra-chave, no arquivo do Centro de Documentação Pr. Dr. Luiz Mott do grupo Dignidade.
Com tiragem aproximada de 15.000 exemplares, em suas 38 edições, a publicação, parte da chamada imprensa alternativa, que se autodenominava ‘homossexual’, tratou, com profundidade jornalística, de questões políticas urgentes sobre repressão e liberdades não somente das populações ‘gueis’ (formação predominante do seu conselho editorial), mas também de travestis, lésbicas, negrxs,
Forma da liberdade


Forma da liberdade
Por: Carlos Motta e Guilherme Altmayer
A cronologia Forma da Liberdade recompila a história do triângulo rosa e outros emblemas de movimentos pelos direitos homossexuais no Brasil, Estados Unidos e Europa. São incluídos eventos importantes da história do ativismo homossexual, com ênfase no triângulo rosa como símbolo de liberação sexual. Pesquisa e compilação internacional por Carlos Motta e brasileira por Guilherme Altmayer.
“Os poderes mortos estão por todo lado – na floresta, cortando as canções; a noite na paisagem industrial, desperdiçando e endurecendo a nova vida; nas ruas da cidade, jogando fora o dia. Queríamos algo diferente para nossa gente: não encontrar uma velha e reacionária república, cheia de medos fantasmagóricos, medos da morte e medos de nascer. Queremos algo diferente” Muriel Rukeyser, A vida de poesia
Triângulo
Uma forma geométrica básica: um polígono de três lados ou vértices e três lados ou cantos, segmentos de linha.
Um emblema: uma imagem pictórica, abstrata ou representacional, que representa um conceito, como uma verdade moral ou uma alegoria.
Um símbolo: algo que representa uma ideia mas é distinto dela e sua proposta é comunicar significado.
Triângulo: uma forma, um emblema, e um símbolo de opressão e liberação: uma forma de liberdade.
Áudio da cronologia Forma da Liberdade no Campo Sonoro da 32a Bienal de São Paulo, 2016, lida por Guilherme Altmayer.
Uma linha do tempo:
1500
A prática da sodomia e sua condenação (1530) é trazida por colonizadores europeus para o Brasil. A prática encontra aqui terreno fértil pois era grande a liberdade nas práticas sexuais dos povos nativos.¹
1830
O Brasil descriminaliza a prática do sexo anal criminalizada por Portugal em 1530, ao não incluir no código penal do Império do Brasil qualquer referência a sodomia.²
1867
Em 29 de agosto de 1867, Karl-Heinrich Ulrichs se torna o primeiro homossexual a se proclamar como tal e falar publicamente sobre direitos homossexuais ao reivindicar ao congresso alemão de juristas em Munique por uma anulação das leis anti-homossexuais.
1895

É publicada a obra Bom Criolo, o primeiro romance homossexual do mundo ocidental. Escrito por Adolfo Caminha, a novela trata da difícil relação entre dois membros da marinha, um negro foragido da escravidão e um grumete branco.
Fonte: Acervo Sânzio de Azevedo
1900
Nasce João Francisco dos Santos ou Madame Satã. Negro, pobre e assumidamente homossexual, morava e trabalhava como performista, cozinheiro e segurança na boêmia região da Lapa no Rio de Janeiro. Foi preso diversas vezes por furto, ultraje público ao pudor e porte de arma.³
1910
A ativista norte-americana Emma Goldman é a primeira a falar publicamente a favor de direitos homossexuais em seus discursos e textos.
1924
É fundada em Chicago a Sociedade de Direitos Humanos, primeira organização pelos direitos dos homossexuais. O movimento existiu por alguns meses antes de ser fechado pela polícia.
1934
É criada uma divisão secreta da polícia alemã para tratar com homossexuais. Um dos seus primeiros atos foi demandar “listas rosas” ao redor da Alemanha. Estas listas, que revelavam nomes de homossexuais masculinos, são compiladas desde 1900.
1935
O parágrafo 175 do código criminal alemão, que condenava práticas homossexuais, foi revisado por Adolf Hitler para incluir beijos, abraços, fantasias gays e atos sexuais entre homens.
1937-1940

25,000 gays condenados são presos forçadamente e levados a campos de concentração onde foram obrigados a usar um triângulo rosa invertido em seu uniforme. Durante os 12 anos do regime nazista, ao redor de 100.000 homens foram identificados em registros policiais como homossexuais, sendo 50.000 deles condenados por violar o parágrafo 175. Se fossem judeus gays, o nível mais baixo nos campos, eles usavam o triângulo invertido sobre a estrela de davi amarela.
1942
Hitler determina a morte como punição a homossexuais.
1946
Rudolf Klimmer, defensor radical dos direitos homossexuais na Alemanha Oriental pressiona a Organização dos Perseguidos pelo Regime Nazista para reconhecer as vítimas homossexuais e mais tarde conseguiu que fossem compensados pelo governo da Alemanha Oriental.
1948
Formado na Dinamarca o grupo homofílico Forbundet af 1948 (Liga de 1948)
1950s

Flâmula do Clube Turma OK
Nas décadas de 1950 e 1960 no Rio de Janeiro e São Paulo, encontros homossexuais aconteciam nas chamadas turmas, reuniões secretas em apartamentos para socialização e transformismo. A Turma OK, ainda em funcionamento no Rio de Janeiro, é hoje um clube para socialização e espetáculos transformistas. ⁴
1950
Fundado em Los Angeles The Mattachine Society, o primeiro grupo homofílico norte-americano. Em São Francisco é fundado o The Daughters of Bilitis, organizacão lésbica nacional pioneira. É formado o RFSL (Federacão Sueca para direitos das lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) na Suécia.
1962
A polícia do Rio de Janeiro proíbe o uso de “fantasia de travesti”. No carnaval de 1964, a polícia agride foliões com golpes de cassetete na entrada de bailes que
Os corpos são as obras


Vera Lucia Santos com Antonio Manuel. Fonte: Artur Freitas.
Os corpos são as obras
Por: Guilherme Altmayer e Pablo León de la Barra
Em 1970, na abertura do 19º Salão Nacional de Arte Moderna (MAM-RJ), o artista Antonio Manuel se despiu e desfilou seu corpo nu pelo espaço, para apresentar seu corpo como uma obra que, mesmo não sendo selecionada pelo juri, ficou marcada como protesto contra as ações repressivas da ditadura militar – “um exercício experimental da liberdade”, nas palavras do crítico de arte Mário Pedrosa. Desde então, muitas foram as narrativas criadas em torno de “o corpo é a obra”, porém poucas mencionam que o artista executou a ação ao lado de outro corpo, semi nu: o de uma mulher, negra, de nome Vera Lúcia Santos.
Enquanto isso, do outro lado da rua, a Divisão de Censuras da Diversão Pública (DCDP) proibia explicitamente a participação de travestis em espetáculos e bailes de carnaval, entre outras ações repressivas executadas para garantir a preservação da “moral e bons costumes”, valores reacionários que alicerçam a “família-cristã”. Na literatura, a escritora Cassandra Rios teve 36 de suas obras censuradas sendo duramente perseguida. Na televisão, o programa ‘Denner é um luxo’ foi vetado por ser, segundo documento oficial, “tóxico para a juventude e que falta firmeza homérica em sua ausência total de masculinidade”.
Desde então, muita coisa mudou, mas nem tanto assim. Neste encontro estão presentes corpos sobre os quais regimes ditatoriais nunca deixaram de incidir, em diferentes medidas e desmesuras. Ditaduras que ganham novas formas, acobertadas pela falácia de uma democracia que serve ao patriarcado branco. Corpos atravessados por práticas normativas de uma sociedade classista, racista, patriarcal, machista, homolesbobitransfóbica que insiste em controlar nossos afetos, bucetas e cus.
Assim sendo, este encontro propõe um diálogo entre algumas propostas dos anos 1970 e 1980 e uma geração de artistas e ativistas no Rio de Janeiro de hoje, trabalhando e repensando a ideia dos corpos-obra e obras-corpo como ferramenta política para desestabilizar normas e discursos hegemônicos. O título da exposição, que pluraliza o nome da obra a partir da qual esse debate é proposto, convoca a pensar em todos os corpos invisibilizados pela história, incluindo os muitos que não estão aqui presentes ou representados, pela história como ela nos foi contada.
Um chamamento à navegação por entre-lugares de corpos nus, cronologias de liberdade, jornais, zines, canais de YouTube, lambe-lambes, reforçadores de unhas, manifestos, pinturas, faixas e cartazes, colares, pós-pornografia, cordéis, práticas do corpo, quadrilha junina, técnicas de autodefesa, práticas de naturismo, pornopiratarias, perfomatividades e troca de afetos.
Por meio de proposições que nos convocam a pensar dissidências como potências representativas de resistências estéticas – enquanto movimentos de (re)fazer a si próprix, a um só tempo singular e múltiplo – passados e futuros se fazem presentes, em propostas polimórficas que confrontam e violam discursos normativos como ferramenta descolonizadora dos próprios corpos: ações micropolíticas de configuração de subjetividades transviadas.
Depressa, por favor, é tarde!
English version:
In 1970, at the opening of the 19th Modern Art National Salon at the Museum of Modern Art, MAM-RJ, the artist Antonio Manuel, undressed and catwalked naked through the space, presenting his own body as an art piece. Even though he was not selected by the jury, it remained as a protest against repressive actions of the military dictatorship – “an experimental exercise of freedom”, according to art critic Mário Pedrosa. Since then, many were the narratives created around “the body is the piece” – although very few of them mention that the artist performed side by side with another semi nude body: that of Vera Lúcia Santos, a black woman.
Meanwhile, across the street, the Public Entertainment Censorship Division,
explicitly prohibited the participation of transvestites in theatre performances and carnival balls, amongst other repressive actions which were executed in order to guarantee the preservation of moral and
good customs – reactionary values that are the foundation of the “christian Family”. At the same time, writer Cassandra Rios, had thirty six of her books censored and she was severely persecuted. The TV show ‘Denner é
um luxo’ (“Denner is a lux”) was cancelled because, according to an oficial document – “it is toxic for the youth and lacks strength due to total absence of masculinity.”
Since then, a lot has evolved, but not so in many cases. In this encounter, we gather bodies that are consistently controlled by a dictatorial regime that never ceased to exist. Dictatorships that gain new forms, protected by the fallacy of a democracy that serves the white patriarchy. Bodies crossed
by normative practices of a class-ridden, racial, patriarcal, chauvinistic, homo-lesbo-bi-trans-phobic society that insists in controlling our affections, pussies and arses.
Therefore, this meeting proposes a dialogue between
Obras-corpo


Obras-corpo
Arquivo de registros das obras presentes na mostra Os Corpos são as Obras na Despina em 2017.
Obras-corpo provoca pensar um trabalho de arte como uma materialidade inseparável da corporeidade que a concebe; que ainda que ela possa ganhar distância e autonomia como obra, ela estará sempre em relação com a pessoa criadora.
A organização do espaço expositivo da mostra Os corpos são as obras na Despina se deu de tal forma que o espectador começasse a experiência por alguns arquivos históricos de resistências transviadas, notadamente iniciada com a flâmula da Turma OK, para, então, navegar entre trabalhos que pensam as ações da presente década. Comecemos nossa visita “gayada” pela mostra.
1. Turma OK

A primeira obra que se avistava, ao entrar nos limites expositivos da mostra, era a flâmula do clube social Turma OK, um estandarte gentilmente cedido pela direção do espaço para a exposição. A peça, confeccionada em veludo azul, continha adornos dourados que compunham o nome Turma OK. Na última noite da exposição ativamos essa obra estandarte para ela que nos conduzisse em procissão/caminhada pelas ruas da Lapa em direção à noite de celebração no clube Turma OK. Partimos em procissão/caminhada do Despina até o Turma OK, isto é, do Saara à Lapa, onde aconteceu a cuidadosa cerimônia de devolução da flâmula para o presidente do clube, Carlos Salazar Pereira Viegas.
Turma OK é o espaço LGBTQI mais antigo do Brasil: criado em 1961, ele está em atividade desde então, com exceção do período entre os anos de 1969 e 1975, já que o local permaneceu fechado por conta das ameaças de violências repressivas e moralistas do período da ditadura militar.
Segundo o pesquisador Rogério da Costa, em sua dissertação Sociabilidade homoerótica masculina no Rio de Janeiro na década de 1960: relatos do jornal O Snob (2010)¹, o nome “turma” era comumente usado nas décadas de 1950 e 1960 por desviados e entendidos, que promoviam encontros em apartamentos para fins de diversão e socialização, uma vez que esse tipo de reunião em locais públicos era socialmente rejeitado e reprimido pela polícia (Costa, 2010). Nas turmas – entre jantares, números de transformismo improvisados e encenações de teatro –, conformavam-se fortes laços de solidariedade. Para manter a discrição, necessária para não chamar a atenção dos vizinhos, os aplausos eram substituídos pelo estalar dos dedos (Costa, 2010). Além da Turma OK, existiram vários outros grupos na cidade do Rio de Janeiro. São exemplos: Turma do Catete, Turma da Glória, Turma de Copacabana, Turma da Zona Norte, Turma do Leme, Turma de Botafogo e o Grupo Snob (Costa, 2010).
Hoje instalado no sobrado de um pequeno prédio na Rua dos Inválidos, a casa promove reuniões e feijoadas entre os sócios. Ela também recebe convidados e apoiadores para eventos, espetáculos de variedades, nos quais shows de gogo boys e transformistas, novatas e veteranas, são a grande atração. Todo ano a casa elege o Rei e a Rainha Turma OK.
O encerramento da mostra foi comemorado na Turma OK, em uma noite especial em homenagem a travesti Luana Muniz.
2 - 22. Eduardo Kac

Eduardo Kac Manifesto de Arte Pornô, 1980 Performance “intervenção”, Praia de Ipanema, 1982. 23,7×16,2cm



Eduardo Kac Movimento de Arte Pornô Performance “intervenção”, Praia de Ipanema, 1982 DVD da performance 4’43’’, preto & branco, som, vídeo
Eduardo Kac Manifesto de Arte Pornô, 1980 Performance “intervenção”, Praia de Ipanema, 1982. 23,7×16,2cm
Eduardo Kac Movimento de Arte Pornô Performance “intervenção”, Praia de Ipanema, 1982 DVD da performance 4’43’’, preto & branco, som, vídeo
“Arte é penetração e gozo”, diz uma das linhas do Manifesto de Arte Pornô do coletivo Gang e Eduardo Kac, publicado em maio de 1980 e distribuído durante a performance Intervenção na praia de Ipanema, em 1982, momento em que desfilaram palavras, poemas e corpos nus. O registro em vídeo preto e branco da performance Intervenção foi também exibido na parede oposta ao manifesto.
Através da pornografia, o coletivo provocava o strip tease das artes e do conservadorismo dos museus. Usando diversos meios – zines, panfletos, histórias em quadrinhos –, o grupo levava o poema pornô às ruas, à praia, às festas – em plena ditadura militar. Em Memória em disputa: Artes obscenas em foco (2016)², a pesquisadora e curadora Fernanda Nogueira descreve o movimento:
“A partir da noção de ‘anti-tradição’, membros da Gang e do Movimento de Arte Pornô assumiram a poesia e a literatura como territórios a serem pervertidos por meio de um projeto burlesco
Manicure Show NAVALHA

Manicure Show NAVALHA
Concepção e curadoria: Ana Matheus Abbade
Esta edição Manicure Show NAVALHA revelará por nós e para nós: gays: bichas: *trans: não-binárias: afeminad_s: masculin_s: lésbicas: corpos não conformados: gênero disruptivo: mulheres desgovernáveis: repito: nesta edição Manicure Show, NAVALHA trará a base de seu EXÉRCITO de NAVALHAS: aquilo em que trazemos em nossas BASE. TRÁ!
Imagem capa: Cybershot___

Bandeira NAVALHA Manicure Show por Ana Matheus Abbade

19 horas. Ao som de Frozen2000, composta por Vera Lúcia e Junior Ferreira com repertório eclético entre funk carioca e pop americano de Daniela Avellar, com sentimentos eletrônicos da música house o público era estimulado a soltar o corpo e tomar consciência da potente reunião que ali se configurava.
Uhura Bqueer

Uhura Bqueer. Registro: Felipe Molitor
Após passar suas mãos pelas da manicure, com uma peixeira empunhada e na pele (sintética) de uma onça, Uhura Bqueer abre os trabalhos performáticos da noite. Drag queen/transformista paraense, Uhura promove duas performances de lip sync para as canções Piranha (1974) de Alypyo Martins e Curumim Chama Cunhatã Que Eu Vou Contar (Todo dia era dia de Índio) (1981), de Jorge Ben Jor. Ambas as canções evocam, em Uhura, a construção da nacionalidade em torno do corpo amazonense e de suas posições histórica e geográfica. Seu corpo é também assentamento político, conexão tecnoamazônica de passado e presente de luta e visões de futuro.
A peixeira é um objeto que nos leva de volta a 1989, quando, durante audiência pública em Altamira (PA), foi discutido o projeto de construção do complexo hidrelétrico de Kararaô no rio Xingu, atual Belo Monte. Em um gesto de resistência que percorreu o mundo, a jovem índia Tuíra encostou a peixeira no rosto do então presidente da Eletronorte com um movimento rápido e preciso, para reivindicar suas terras indígenas e o seu espírito de vida. A repercussão desse ato de protesto levou o Banco Mundial a suspender o financiamento da usina.
Vinicius Pinto Rosa

Vinicius Pinto Rocha. Registro: VIDAFODONA
A noite segue e Ana recebe Vinicius Pinto Rosa para uma sessão de pedicure que preparou a bicha para o ataque. O artista entra em cena carregando, em cópula, entre os braços e pernas uma estrutura que remete a uma base escultórica – peça por ele construída. Assim inicia a performance Baseline. No centro da sala, Vinicius traça linhas com fita adesiva que tangenciam e demarcam o território que o artista ocupa.
O envolvimento do seu corpo com a base é intenso, duradouro e movido ao contato – um processo de reconhecimento que leva o artista a subir e se sustentar com segurança e leveza na base, que acomoda seus pés como dois saltos altos. Baseline sintetiza a imaginação de um corpo inconformado que nasce em relação e separação com o mundo. A base, construto moderno que separa a arte do mundo, é substituída por algo complexo, que, tal como a vida, escapa do peso e encontra vetores para novas subjetividades na abstração.
Michelly

Enquanto isso, Michelly, assídua frequentadora do espaço Despina e que se encontra em situação de rua no centro da cidade, senta-se na mesa da manicure para reforçar suas próprias unhas com o material disponível, dando pistas de suas intenções naquela noite.
A movimentação de pessoas, em um trânsito constante, faz com o espaço seja tomado por conversas, risadas e gritos – encontros de corpas migas e bailantes. A falta de um bar próprio do Show faz com que as pessoas ocupem também a rua, onde vários ambulantes do centro se fizeram presentes para atender a clientela sedenta.
Eis que, vestida de Zé Pelintra – terno e chapéus brancos com detalhes e gravata vermelha –, Michelly sobe majestosa as escadas da entrada da Despina carregando nos ombros uma estátua de São Jorge e seu cavalo esculpidos em madeira, material que encontrou na rua. No candomblé, aliás, São Jorge é representado por Ogum. No centro da sala, bem embaixo da bandeira Navalha!, Michelly repousa a escultura e, discretamente, ensaia alguns movimentos de capoeira sobre a escultura, como um ritual de anúncio de chegada.
Michelly, então, senta-se com as pernas abertas, abraça a peça com carinho, e esconde notas de dinheiros embaixo dela. Enquanto sorri, ela orna a estátua com o colar de contas que trazia envolvido no pescoço: passos de sabedoria e força de uma guerreira que enfrenta o dragão. Ao final, Michelly anexa um pequeno bilhete à escultura, no qual realiza a seguinte inscrição: 50.000 moedas – o preço estimado para a sua obra. Dou uma nota de 50 reais, e ela faz o gesto para me entregar a escultura. Sugiro que a peça se torne uma das obras em exibição na mostra e que ela passe outro dia para buscá-la. Michelly aceita minha proposta e sai da sala para
Maiêutica


Maiêutica
Por: Raquel Mützenberg
Maiêutica é um partejar de ideias. Ideias que compõem um corpo-matéria que se dobra e desdobra, atualiza e condensa as fisicalidades e a plasticidade de seres em cena. O corpo é recurso material e plástico que se deixa dividir ou multiplicar pelas subjetividades femininas: a capacidade de renascer, de se re-parir.
O processo Maiêutica é uma tentativa de “re-parir-se”, de renascer de si mesma. O material cênico foi coletado a partir do contato com gestantes, parturientes, doulas, notícias jornalísticas e discussões de grupos sobre parto humanizado, violência obstétrica e misoginia. A investigação iniciou como uma pesquisa acadêmica e se desdobrou em intercâmbios com artistas de distintas áreas, prevalecendo o diálogo interdisciplinar durante sua construção.
Qual era sua intenção ao imaginar este trabalho?
Um parto de mim mesma. Quis viver uma reinvenção seguida da outra sem tempo para refletir profundamente, até ver a minha carne ser carne, sem pensamentos, sem julgamentos. E quis ver este corpo neste processo cíclico em contato com o mundo, por isso fui pra rua.
Como se deu a materialização?
A marionete foi uma escolha inicial, parti dela para pensar o corpo feminino e a gestação, o parto. Partilhei esse desejo num laboratório com vinte marionetistas do mundo todo organizado pela bonequeira Natacha Belova. Lá, copiei a minha cabeça em espuma/esponja. Pensei que meu corpo caberia totalmente numa boneca grávida que fosse eu mesma mas meu corpo era muito grande para entrar totalmente numa boneca em escala humana. Então saí e me tornei um espectro dela. Uma sobra. Uma sombra. Uma mulher atrás. Uma mulher em cima. A mulher que eu sou é quem? É quem eu quiser. Isso é muito culpa da Sueli Rolnik: quando ela aborda a noção de deleuziana de dobra há uma lógica marionética na sua liberdade de explicar os processos.
Como você vê seu trabalho hoje?
É um processo que se tornou infinito na minha vida… renascer, me reinventar. Tenho necessidade de me alterar e sei que é um processo de escutar, gestar e então exprimir. É como num processo de criação, por exemplo, de um espetáculo, mas aqui no caso é a minha existência que recrio. Não gosto de perceber que a vida pode se fixar num caminho predestinado. No meu passado de menina no interior profundo do Brasil, conheci uma violência banalizada e este é meu motor no momento. Escuto os desejos desse corpo que suou, apanhou e gritou… mas que aprendeu a renascer e se reinventar. É urgente alterar os sonhos quando estamos deprimidos e com medo de viver livremente. O método socrático da maiêutica é um caminho para encontrar um futuro possível no qual possamos acreditar. Eu me deprimo facilmente ao ver como funciona a lógica de um mundo sem futuro, e sentir meu corpo diminuir de vibração me faz chamar as amigas para peidar com a xavasca.
Que palavras conectam, colocam seu trabalho em relação com práticas, corpos, textos?
Meu jogo preferido é escutar o corpo e entender o que é sim, não e pode ser… é lá que surgem possibilidades e desejos. Honestidade com os desejos é uma fonte de alegria infinita, meu surpreendo sempre ao brincar com o caminho desse desejo e o que ele pode nos fazer encontrar.
Raquel Mützenberg
Maiêutica é um partejar de ideias. Ideias que compõem um corpo-matéria que se dobra e desdobra, atualiza e condensa as fisicalidades e a plasticidade de seres em cena. O corpo é recurso material e plástico que se deixa dividir ou multiplicar pelas subjetividades femininas: a capacidade de renascer, de se re-parir.
O processo Maiêutica é uma tentativa de “re-parir-se”, de renascer de si mesma. O material cênico foi coletado a partir do contato com gestantes, parturientes, doulas, notícias jornalísticas e discussões de grupos sobre parto humanizado, violência obstétrica e misoginia. A investigação iniciou como uma pesquisa acadêmica e se desdobrou em intercâmbios com artistas de distintas áreas, prevalecendo o diálogo interdisciplinar durante sua construção.
Qual era sua intenção ao imaginar este trabalho?
Um parto de mim mesma. Quis viver uma reinvenção seguida da outra sem tempo para refletir profundamente, até ver a minha carne ser carne, sem pensamentos, sem julgamentos. E quis ver este corpo neste processo cíclico em contato com o mundo, por isso fui pra rua.
Como se deu a materialização?
A marionete foi uma escolha inicial, parti dela para pensar o corpo feminino e a gestação, o parto. Partilhei esse desejo num laboratório com vinte marionetistas do mundo todo organizado pela bonequeira Natacha Belova. Lá, copiei a minha cabeça em espuma/esponja. Pensei que meu corpo caberia totalmente numa boneca grávida que fosse eu mesma mas meu corpo era muito grande para entrar totalmente numa boneca em escala humana. Então saí e me tornei um espectro dela. Uma sobra. Uma sombra. Uma mulher
Pornôpirata


Pornôpirata
Pós-porno e afronta à heteronormatividade compulsória
Por: Bruna Kury
Qual era sua intenção ao imaginar este trabalho?
Ao imaginar o trabalho me veio a vontade de expandir os imaginários em relação a sexualidade e o que permeia essa construção normatizadora. Pensando em sexualidade criativa e não hegemônica, corporalidades dissidentes com lugar de fala e desconstrução da norma. A popularização da póspornografia por um viés sudaka.
A venda de DVDs é acompanhada de diálogo num processo de interseccionalizar questões como raça, gênero, sexualidade, etc. Nesse mundo onde as relações são hierarquizadas e os desejos podados e condicionados a corpos hétero branco e cis, o projeto PORNOPIRATA (2017) foi criado para ser fonte de renda e autonomia na marginalidade; popularização da PÓS-PORNO e afronta a heteronormatividade compulsória, a idéia é participar de eventos e feiras principalmente na rua para mostrar que outro pornô é possível e muitas vezes nossos tesões estão condicionados.
Sexorcismos, pornoterrorismo, pós pornografia, glitterrorismo, sexualidades dissidentes, corpas não assimiláveis e marginalizadxs e oprimidxs, corpxs gordxs, travestis, ditas doentes, doentes, cyborgs, kuirs, sudakas, negrxs, indigenxs, trans, intersexs, com diversidades funcionais, ditas sujas, sujas, antiheterokapital.
Como se deu a materialização do trabalho?
O projeto é criação minha mas não aconteceria se não fosse as parcerias e afetos nesse processo. Considero uma produção coletiva mesmo a curadoria dos vídeos sendo minha. As primeiras capas (dvd 1 e 2 contou com duas capas cada, feitas pelo artista Márcio Vasconcelos.
A terceira foi eu mesma que fiz e a quarta edição com curadoria em parceria com monstruosas e distro dysca teve capa feita pelas mesmas. Os DVDs são vendidos tanto por mim quanto por outras pessoas dissidentes dentro dessa rede póspornô, tendo como comum acordo o cuidado com a difusão do material. Na ocasião da banca na exposição “os corpos são as obras”, contei com a luxuosa parceria de Ventura Profana, performando comigo “escorpionika”
Após a leitura de um texto escrito por mim estávamos em ação póspornô que digo ser sobre cuidado. Na ação, me masturbo com o cabo de uma faca deixando a lâmina para fora, numa espécie de rabo-prótese-cortante. A performance é sobre o cú que não é passivo e sim ativo e cortante, uma resposta violenta ao heteropatriarcado. Após a masturbação eu e Ventura ficamos num tipo de dança dos corpos onde conversamos analmente.

Fálico, face, plug anal. série eskorpiônica
Como você vê seu trabalho hoje?
Vejo meu trabalho como arte contemporânea interseccional, a póspornografia é só um dos caminhos, todo o percurso e as historicidades fazem parte e reverberam, a pornopirataria se conecta a trabalhos em performance “escorpiônika” (que já performei sozinha várias vezes e também com Ventura Profana na Despina, no Mastur Bar com Mogli Saura, no festival Anormal com a Diana Pornoterrorista, etc), o objetual de resina dildo-faca, a série fotográfica, etc. Vejo o trabalho em processo e não faria nada diferente.
Que palavras conectam, colocam seu trabalho em relação com práticas, corpos, textos?
necropolítica, fronteiras, rede, anarquia, dissidência, pornoterror, insurreição, revolta, transexualidade, capitalismo gore, hiv
BIO / Bruna Kury (1987) é brasileira, anarcatransfeminista, performer, artista visual e sonora, atualmente reside em São Paulo (BR) e desenvolve trabalhos em diversos contextos, seja no mercado institucional da arte ou em produções de borda. Focada em criações atravessadas por questões de gênero, classe e raça (contra o cis-tema patriarcal heteronormativo compulsório vigente e a opressões estruturais-GUERRA de classes). Já performou com a Coletiva Vômito, Coletivo Coiote, La Plataformance, MEXA e Coletivo T. Atualmente investiga sonoridades no pósporno e a criação de objetuais que são ramificações do trabalho com performance.

Ação de Bruna Kury e Ventura Profana na noite de abertura da mostra Os Corpos são as Obras na Despina, Rio de Janeiro em 2017.
Pós-porno e afronta à heteronormatividade compulsória
Bruna Kury
Qual era sua intenção ao imaginar este trabalho?
Ao imaginar o trabalho me veio a vontade de expandir os imaginários em relação a sexualidade e o que permeia essa construção normatizadora. Pensando em sexualidade criativa e não hegemônica, corporalidades dissidentes com lugar de fala e desconstrução da norma. A popularização da póspornografia por um viés sudaka.
A venda de DVDs é acompanhada de diálogo num processo de interseccionalizar questões como raça, gênero, sexualidade, etc. Nesse mundo onde as relações são hierarquizadas e os desejos podados e condicionados a corpos hétero branco e cis, o projeto PORNOPIRATA (2017) foi criado para ser fonte de renda e autonomia na marginalidade; popularização da PÓS-PORNO e afronta a heteronormatividade compulsória, a idéia é participar de eventos e feiras principalmente na rua para mostrar que outro pornô é possível e muitas vezes nossos tesões estão condicionados.
Sexorcismos, pornoterrorismo, pós pornografia, glitterrorismo, sexualidades dissidentes, corpas não assimiláveis e marginalizadxs e oprimidxs, corpxs gordxs, travestis, ditas doentes, doentes, cyborgs, kuirs, sudakas, negrxs, indigenxs, trans, intersexs,
Curto-circuito de zines feministas 2015-2017


Curto-circuito de zines feministas 2015-2017
Por: Camila Puni
A instalação exibiu zines xerografados produzidos no período 2015-2017. Esses objetos de arte feminista fazem parte da pesquisa de doutoramento intitulada Itinerâncias zine-feministas: um mergulhar em datilografias de fúria & saudade, defendida em 2019. A exibição contou a história dos zines feministas brasileiros (com os próprios zines) encontrados em cidades como: Rio de Janeiro (grande Rio e Baixada), São Paulo-SP, Florianópolis-SC, Belo Horizonte-MG, Porto Alegre-RS, Curitiba-PR. Acompanhei a produção zinística por (e entre) redes de afeto e amizade-feminista. Mas por que são zines feministas? Porque são vozes, letras, rabiscos, colagens, HQ’s e poesias datilografadas com resistência, raiva, dor e sangue.
Curadoria de zines produzidos entre 2015-2017
Qual era sua intenção ao imaginar este trabalho?
Acredito que mais do que a possibilidade em imaginar tive foi uma oportunidade em organizar o material artístico que vinha recolhendo até o momento. O que para uma pesquisadora em pleno calor do campo, vale muitíssimo. A principal motivação em participar da exposição era de exibir, abrir o processo e tirar das pastas as autopublicações que estavam frescas, recém lançadas por diversas coletivas:
TESOURA, Maracujá Roxa, Drunken Butterfly, Feira Velcrx, TIAMAT, Efusiva Distro; eram identidades: sapatão, fancha, lesbiana, sapa-bi, sapa-mpb, lésbica vegana, sapatânike, preta-gorda, poliamorosa (ah! Como vocês são maravilhosaxs).
Assim, poder perceber como os zines agiam em contato com pessoas que nunca haviam visto um zine. Um super desafio já que os zines raramente circulam em galerias ou instalações artísticas. São encontrados nas ruas, em shows punks ou feiras autônomas. Deparei-me com a sensação de estar levando ao espaço Despina um objeto banido por sua fragilidade. Afinal, são algumas folhas de papel dobradas ao meio… em alguns casos, nem ao menos um grampo a segurá-los. São as delicadezas que rodeiam os zines a sua fonte de resistência.
Como se deu a materialização do trabalho?
Quando espalhei pelo chão de meu quarto (um apto gracinha no bairro Santa Teresa) os mais de 50 zines que havia coletado na época, percebi que eles de alguma forma se conectavam. O Gui Altmayer foi fundamental nesse caminho de percepção, pois conseguimos visualizar juntxs a ligação afetiva desse objeto à maquina de escrever. Havia um circuito de ligação nas temáticas, formatos e autorias. Com isso a instalação se materializou. Tive a ideia de amarrar as fitas roxas (cor utilizada em bandeiras feministas) ligando cada zine a uma tecla da máquina de escrever. Os zines representavam a rede de autocuidado de meu campo de pesquisa.
Como você vê seu trabalho hoje?
Foi uma experiência tão importante que eu seria capaz de tornar essa instalação itinerante, para poder exibi-la novamente. Revisitar o trabalho e poder amarrar outros zines, a partir de outros recortes, nas teclas de uma máquina de escrever e libertá-los de minhas pastas mofadas. Seria certamente um alívio. Observo que o trabalho curto-circuito de zines feministas cresceu por seu montante de palavras registradas na tese. E agora preciso de alguma maneira compartilhar esses saberes, seja em sala de aula ou em congressos internacionais. O medo de publicar nossas artes ou de criar nossas poéticas, nos deixa a cada década.
Que palavras conectam, colocam seu trabalho em relação com práticas, corpos, textos?
Ao praticar zines, o que se pratica? Que corpos circulam com zines nas mãos? Que tipo de textos é encontrado atualmente nessa arte fugaz? Não consigo separar os Corpos São As Obras de minha tese, por isso acho que algumas palavras chaves podem
Hotspot

Como se deu a materialização do trabalho?
Conecte-se faz parte do Mastur Bar. O Mastur Bar é uma coisa bem complexa, mas é um bar. Faço uma performance que se chama aula-show, sobre o gesto desmunhecar. Gosto de investigar a corpa, notar como se movem as articulações, o que isso tem a ver com nossa ancentralidade cobra, o que tem a ver com os processos coloniais, e criar imagens que movem esse fluxo para outra direção. Na aula-show mostro, com palavras, músicas, imagens e objetos, como esse gesto foi construído como sendo um gesto do repertório feminino branco burguês e depois virou “ser um homem afeminado”. Munheca vem do espanhol, é boneca. A língua do colonizador dando nome pra uma parte do corpo. Eu vou contando a historia – ficção desse gesto com imagens da história da arte canônica a partir do século XVI até chegar nas imagens em que desmunhecar vira um gesto feminino (antes era apenas um gesto nobre). Isso acontece no final do século XVIII, quando aparece nas corpas das mulheres denominadas histéricas pelo diretor do Hospital Psiquiátrico Salpetriere, Charchot, que criou toda uma iconografia para coreografar a histeria como doença exclusivamente feminina. O orgasmo em condições clínicas “curava” as pacientes (sendo masturbada pelo médico). A desmunhecada estava em contratura (gesto que parece um soco pra dentro), bem longe do ventre. A revista Vogue, que surgiu no início do século XIV, depois dessa iconografia, sempre tinha uma mulher desmunhecando na capa.
Daí chego na dança Vogue, que surgiu em Nova York, no Harlem, nos anos 60, sendo criada por corpas dissidentes de raça, classe e gênero, que subvertem o gesto. Misturado com o break dance, com a ginastica e outras danças afro-hispânicas, desmunhecar vira outra coisa, vira a afirmação de uma potência, questiona o que é ser “mulher”.
A imagem do conecte-se, que tem um wifi buceta-cu, surge nessa pesquisa e também depois de algumas sessões de acupuntura que fiz e senti um alinhamento dos chakras. Ela se materializa quando olho pro símbolo do wifi e vejo um triângulo que é a representação de como a vibração se propaga na água. Nessa parte da performance falo sobre o capitalismo touchscreen, mais uma apropriação da vibração. Assim como os vibradores foram criados para curar a histeria, o celular quer concentrar nosso desejo todo nele, e umas das técnicas é a vibração. O toque sensível à tela, esse tipo de espelho que rola, é o feed. Como um cachorro que quer esconder o cocô e esfrega a pata no piso frio achando que ali tem terra, estamos sempre buscando TUDO no feed.
O conecte-se é sobre a conexão de si, o cuidado de si, a masturbação como gesto de cura e produção de vibração que começa no chakra básico e vai ate o coronário. É uma forma de visualizar e ao mesmo tempo apagar esse aprendizado colonial sobre o amor romântico, sobre a educação pela pornografia mainstream, sobre a desconexão entre sexo e espiritualidade.
Como você vê seu trabalho hoje?
Comecei o Mastur Bar em 2015 e desde então muitas pessoas colaboraram com o projeto e ele foi tomando outras formas. Me sinto mais próxima do conecte-se. Tenho feito praticas de gozar sem objeto, pensar as fronteiras entre o riso, o gozo e o choro, acupuntura. Não sei se faria diferente. Talvez não. Vejo o trabalho como um pequeno arquivo que agora me leva para os ossos, além dos gestos. Tenho pensando na relação entre pélvis e esfenoide, o osso que faz a mandíbula se mexer, dentre outras coisas. É o primeiro osso que surge na base do crânio e tem o mesmo formato borboleta da pélvis. Tenho pensando assim: uma boca virada pra terra e bem diferente da boca pra frente. Gosto de ler imagens e continuo lendo. Mas tem uma coisa que é produzir imagens, acho que me localizo mais na produção de imagens como se fossem um oráculo. Assim fico mais a vontade pra diferenciar intuição, paranóia e desejo.
Que palavras conectam, colocam seu trabalho em relação com práticas, corpos, textos?
Oracular-se
Desejo
bell hooks: O amor como a prática da liberdade
Magia
Solange, tô aberta
Irmã
Kundaline
Plexo Solar
Maria Galindo: No se puede descolonizar sin despatriarcalizar
Bio:
Artista-pesquisadora, trabalha na intersecção entre arte, produção de subjetividade e invenção de pedagogias. Doutora em Arte e Cultura Contemporânea pela UERJ com a tese Lady Incentivo SEX 2018: um disco sobre tese, amor e dinheiro. Em 2017 participou da residência Capacete – Documenta 14, Atenas, Grécia e em 2018 da 10ª Berlin Biennale.
Fabiana Faleiros
Como se deu a materialização do trabalho?
Conecte-se faz parte do Mastur Bar. O Mastur Bar é uma coisa bem complexa, mas é um bar. Faço uma performance que se chama aula-show, sobre
Ocupação Sertransneja


Ocupação Sertransneja
Por: coletivo Xica Manicongo e as menines da Casa Nem
Junho de 2017. A noite de abertura de Os Corpos são as Obras foi ocupada pelo coletivo Xica Manicongo e as menines da Casa Nem para uma noite Sertransneja com quadrilha travesti e leitura de cordéis.
SerTransneja Balaiera
Travesti que é balaieira
Roda no maracatu
e resiste com o corpo do balaio
Na flor do caju
Travesti é ser vivente
da sobrevida do sertão
enfrentar ódio indolente
é mais que aperreio, bala e facão
Foram chamar as trava da peste
Que é que há se eu vim do norstes
eu vim de lá
eu vim de lá
Roda balaieira
Vai rodando sem parar
Vai rodando no balaio
Na flor do maracujá
Axé maracatu elétrico
Axé meu povo nagô
Axé as trans de Aracatiaçu
Dança dança meu amor
(Tertuliana Lustosa e Wescla Vasconcellos)
Eu escolhi ser de verdade, e isso me faz grande nobre e real.
E embora, as vezes, dói menos que ficar,
Não sou do tipo orgulhosa, mas devo admitir, que desta vez eu tenho razão,
Não consigo levantar, caminhar, em direção ao desconhecido.
Conhecida sim, é a felicidade.
Vocês me deixam atordoados, e anestesiada,
Afinal de contas, na minha frente, estão apenas corpos caídos
Identificados como meu futuro
E eu escolhi ser de verdade,
E isso me faz grande nobre e real.
Sou Francisco, sou João, sou José, sou grito, sou a força, sou amor, sou a fé, sou o espírito revolucionário, sou Laruê do Exú, sou a negra, africana, sou o frevo, sou o sol potiguar, sou atriz, sou escrava, sou rainha, sou Maria, sou Joana, sou a Xica, que vive na ladeira da misericórdia, sou apenas cabelereira e PUTA.
Governo, você vai ter que admitir,
a minha sobrevivência.
Quadrilha Setransneja promovida pelo coletivo Xica Manicongo
Junho de 2017. A noite de abertura de Os Corpos são as Obras foi ocupada pelo coletivo Xica Manicongo e as menines da Casa Nem para uma noite Sertransneja com quadrilha travesti e leitura de cordéis.
SerTransneja Balaiera
Travesti que é balaieira
Roda no maracatu
e resiste com o corpo do balaio
Na flor do caju
Travesti é ser vivente
da sobrevida do sertão
enfrentar ódio indolente
é mais que aperreio, bala e facão
Foram chamar as trava da peste
Que é que há se eu vim do norstes
eu vim de lá
eu vim de lá
Roda balaieira
Vai rodando sem parar
Vai rodando no balaio
Na flor do maracujá
Axé maracatu elétrico
Axé meu povo nagô
Axé as trans de Aracatiaçu
Dança dança meu amor
(Tertuliana Lustosa e Wescla Vasconcellos)
Eu escolhi ser de verdade, e isso me faz grande nobre e real.
E embora, as vezes, dói menos que ficar,
Não sou do tipo orgulhosa, mas devo admitir, que desta vez eu tenho razão,
Não consigo levantar, caminhar, em direção ao desconhecido.
Conhecida sim, é a felicidade.
Vocês me deixam atordoados, e anestesiada,
Afinal de contas, na minha frente, estão apenas corpos caídos
Identificados como meu futuro
E eu escolhi ser de verdade,
E isso me faz grande nobre e real.
Sou Francisco, sou João, sou José, sou grito, sou a força, sou amor, sou a fé, sou o espírito revolucionário, sou Laruê do Exú, sou a negra, africana, sou o frevo, sou o sol potiguar, sou atriz, sou escrava, sou rainha, sou Maria, sou Joana, sou a Xica, que vive na ladeira da misericórdia, sou apenas cabelereira e PUTA.
Governo, você vai ter que admitir,
a minha sobrevivência.
Cine clube pós-pornô


Cine clube pós-pornô
Curadoria: Andiara Ramos, Nathalia Gonçales
Debate-bafo: Andiara Ramos Pereira, Nathalia Gonçales, Kleper Reis e Bibi Campos Leal.
Corpos dissidentes. Corpos como armas bélicas. Fabulações marginais de prazeres da carne. Um novo imaginário do corpo, do sexo e das práticas pornográficas. Eis o cineclube pós-pornô.
Programação:
Reivindico meu direito a ser um monstro
Susy Shock
Poema lido no Festival pela Despatologização das Identidades Trans na cidade argentina de La Plata, 2011.
Indecencia Transgenica
Marina Murta e Nina Rodrigues
Em uma noite de lua nova, duas sapatonas se unem para praticar conjuros contra o cistema normativo heterocapitalista. A força orgástica sapatão combatendo a dominação das terras e dos corpos dissidentes da heterossexualidade compulsória, incitando a rebeldia e resistência sapatanicas y agrofanchas.
Conjuro Sapatâniko
Marina Murta e Nina Rodrigues
Em uma noite de lua nova, duas sapatonas se unem para praticar conjuros contra o cistema normativo heterocapitalista. A força orgástica sapatão combatendo a dominação das terras e dos corpos dissidentes da heterossexualidade compulsória, incitando a rebeldia e resistência sapatanicas y agrofanchas.
Latifúndio

Érica Sarmet
Área demarcada, regulada e vigiada do Estado, o corpo é a nossa primeira propriedade privada. Vasto, amplo, oferece múltiplas possibilidades de criação e construção, mas acaba reduzido a práticas sexuais e corporais monocultoras. E se nós invadíssemos o corpo? Para a reforma agrária sexual você precisará de carvão, ovos e tinta vermelha.
Extética
nishmi
sobre adequar-se a padrões
sobre normalizar nossos corpos
(tamanha doutrina)
angústias estéticas há muito guardadas.
sobre liberdade.
Tarta nupicial
Lu Muzzin, Fernanda Guaglianone, Ph lau gam
Vídeo-registro de ação realizada na cidade argentina de La Plata, 2012. Um percurso por lugares historicamente utilizados como cenários para legitimar o ritual do casamento normativo.
‹ X-MɅNɅS ›
Clarissa Ribeiro
Recife, 2054. No submundo os dissidentes sexuais, bichas bandidas, travestis, sapatonas boladas e todos os corpos marginalizados bolam um plano para destruir a cisheteronorma.
Lemebel
Joanna Reposi
O itinerário traçado pelo ativista, artista e escritor chileno Pedro Lemebel indica um caminho marcado pela dor, uma incursão pelas feridas de um passado que ainda insiste em fazer turno.
Coletivo Coiote e Anarcofunk na Cinelândia
Korpos enquanto armas bélicas. Matéria envolvente entre espaço-tempo. Desprogramadxs do desejo de consumo hetero-capital- cri$tão. Desejantes de um devir selvagem. Korpos em festa.
Andiara Ramos Pereira (Dee Dee) é membro da Coletiva Feminista Maria Bonita RJ, responsável pela organização da I Mostra Pós Pornô (R)Existentes e outros eventos de pós-pornografia na cidade do Rio de Janeiro. Compõe os grupos de pesquisa Práticas estético-políticas na arte contemporânea/UFF e Trauma, subjetividade e políticas de reconhecimento/UniRio. Possui pesquisa voltada para as intersecções entre Arte, Gênero e Política.
Nathalia Gonçales compõe o CineQueer e NuSex – Núcleo de Estudos em Corpos, Gêneros e Sexualidades. Atualmente é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisa temáticas relacionadas a ficções sexuais, arte, performance e políticas do corpo.
Corpos dissidentes. Corpos como armas bélicas. Fabulações marginais de prazeres da carne. Um novo imaginário do corpo, do sexo e das práticas pornográficas. Eis o cineclube pós-pornô.
Despina / Julho / 2017
Curadoria: Andiara Ramos, Nathalia Gonçales
Debate-bafo: Andiara Ramos Pereira, Nathalia Gonçales, Kleper Reis e Bibi Campos Leal.
Programação
Reivindico meu direito a ser um monstro
Susy Shock
Poema lido no Festival pela Despatologização das Identidades Trans na cidade argentina de La Plata, 2011.
Indecencia Transgenica
Hija de Perra & Perdida
Atenção! Se o sexo fora da ordem “natural” te ofende, se você é da opus dei, se você é homofóbico ou se sua moral não te permite, abstenha-se de ver este vídeo.
Conjuro Sapatâniko
Marina Murta e Nina Rodrigues
Em uma noite de lua nova, duas sapatonas se unem para praticar conjuros contra o cistema normativo heterocapitalista. A força orgástica sapatão combatendo a dominação das terras e dos corpos dissidentes da heterossexualidade compulsória, incitando a rebeldia e resistência sapatanicas y agrofanchas.
Latifúndio
Érica Sarmet
Área demarcada, regulada e vigiada do Estado, o corpo é a nossa primeira propriedade privada. Vasto, amplo, oferece múltiplas possibilidades de criação e construção, mas acaba reduzido a práticas sexuais e corporais monocultoras. E se nós invadíssemos o corpo? Para a reforma agrária sexual você precisará de carvão, ovos e tinta vermelha.

Extética
nishmi
sobre adequar-se a padrões
sobre normalizar nossos corpos
(tamanha doutrina)
angústias estéticas há muito guardadas.
sobre liberdade.
Tarta nupicial
Lu Muzzin, Fernanda Guaglianone, Ph lau gam
Vídeo-registro de ação realizada na cidade argentina de La Plata, 2012. Um percurso por lugares historicamente utilizados como cenários para legitimar o ritual do casamento normativo.
‹ X-MɅNɅS ›
Clarissa Ribeiro
Recife, 2054. No submundo os dissidentes sexuais, bichas bandidas, travestis, sapatonas boladas e todos os corpos marginalizados bolam um plano para destruir a cisheteronorma.
Lemebel
Joanna Reposi
O itinerário traçado pelo ativista, artista e escritor chileno Pedro Lemebel
Noite do Corpo Nu Luz del Fuego


Noite do Corpo Nu Luz del Fuego
Um encontro de corpos nus, com visita a exposição. Cine clube com exibição do documentário A Nativa Solitária, que narra a trajetória de Luz del Fuego e seu pioneirismo ao trazer a prática do naturismo para o Brasil nos anos 1950.
Noite do Corpo Nu, na próxima terça-feira, 25 de julho, a partir das 19.30h na Despina.
IMPORTANTE: o nu será mandatório, para que todxs se sintam a vontade de se liberar de suas vestes. Teremos uma cachacinha para desinibir nossas carnes e um lugar para deixar suas roupas com segurança.
TRAJE: nu (mas pode trazer uma canga ou toalha para sentar)
PROPOSTA: uma noite solta, naturista, aberta para improvisos, falas e práticas do corpo com Kleper Reis e visita como viemos ao mundo à exposição. Cineclube com o filme ‘A Nativa Solitária’, sobre a diva Luz del Fuego, pioneira no naturismo no Brasil nos anos 1950 com participação da pesquisadora e curadora Nataraj Trinta.
A Nativa Solitária. Documentário de 1954 com direção de Francisco de Almeida Fleming sobre a história de Dora Vivacqua / Luz del Fuego, suas performances artísticas e sua relação com o naturismo e o primeiro clube naturista do Brasil na Ilha do Sol na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro. Uma das grandes feministas brasileiras precursora do movimento naturista brasileiro.
NÃO SERÁ TOLERADO:
machismo
racismo
etarismo
classismo
gordofobia
homolesbobitransfobia
e discursos de ódio de qualquer tipo!
Um encontro de corpos nus, com visita a exposição. Cine clube com exibição do documentário A Nativa Solitária, que narra a trajetória de Luz del Fuego e seu pioneirismo ao trazer a prática do naturismo para o Brasil nos anos 1950.
Noite do Corpo Nu, na próxima terça-feira, 25 de julho, a partir das 19.30h na Despina.
IMPORTANTE: o nu será mandatório, para que todxs se sintam a vontade de se liberar de suas vestes. Teremos uma cachacinha para desinibir nossas carnes e um lugar para deixar suas roupas com segurança.
TRAJE: nu (mas pode trazer uma canga ou toalha para sentar)
PROPOSTA: uma noite solta, naturista, aberta para improvisos, falas e práticas do corpo com Kleper Reis e visita como viemos ao mundo à exposição. Cineclube com o filme ‘A Nativa Solitária’, sobre a diva Luz del Fuego, pioneira no naturismo no Brasil nos anos 1950 com participação da pesquisadora e curadora Nataraj Trinta.
NÃO SERÁ TOLERADO:
machismo
racismo
etarismo
classismo
gordofobia
homolesbobitransfobia
e discursos de ódio de qualquer tipo!
Turma OK


Turma OK
Turma OK é um clube social gay que existe desde 1961 na Lapa no Rio de Janeiro, e é considerada o mais antigo grupo social transviado do Brasil em atividade, segundo descrição no website. Porém, entre o ano de 1969 e 1975, o clube permaneceu fechado por causa das ameaças de violências repressivas do período da ditadura militar. Hoje instalado no sobrado de um pequeno prédio na Rua dos Inválidos, a casa promove reuniões entre os sócios, recebe convidados e apoiadores para almoços, noites de bingo e espetáculos de variedades, onde os shows de go go boys e transformistas novatas e veteranas são a grande atração.
O nome “turma” era comumente usado nos anos 50 e 60 por homossexuais que promoviam reuniões em apartamentos para fins de diversão e socialização, uma vez que os encontros homossexuais em locais públicos eram socialmente rejeitados e proibidos. Nestas turmas, entre jantares, performances improvisadas e encenações de teatro, formavam-se fortes laços de solidariedade. Os aplausos eram substituídos pelo estalar dos dedos para que o barulho não chamasse a atenção dos vizinhos. Além do Turma OK, existiram vários outros grupos na cidade do Rio de Janeiro, como a Turma do Catete, Turma de Copacabana, Turma da Zona Norte, Turma do Leme, Turma da Glória, Turma de Botafogo e o Grupo Snob. Nas reuniões das turmas se construíam novas subjetividades, comportamentos e formas de conviver de homossexuais cariocas dos anos.
Segundo o pesquisador Rogério da Costa, em sua dissertação Sociabilidade homoerótica masculina no Rio de Janeiro na década de 1960: relatos do jornal O Snob (2010), o nome “turma” era comumente usado nas décadas de 1950 e 1960 por desviados e entendidos, que promoviam encontros em apartamentos para fins de diversão e socialização, uma vez que esse tipo de reunião em locais públicos era socialmente rejeitado e reprimido pela polícia (Costa, 2010). Nas turmas – entre jantares, números de transformismo improvisados e encenações de teatro –, conformavam-se fortes laços de solidariedade.
Hoje instalada no sobrado de um pequeno prédio na Rua dos Inválidos, a casa promove reuniões e feijoadas entre os sócios. Ela também recebe convidados e apoiadores para eventos, espetáculos de variedades, nos quais shows de gogo boys e transformistas, novatas e veteranas, são a grande atração. Todo ano a casa elege o Rei e a Rainha Turma OK.
Noite de encerramento da mostra Os Corpos São as Obras na Turma OK


A primeira obra que se avistava, ao entrar nos limites expositivos da mostra Os Corpos são as Obras, era a flâmula do clube social Turma OK, um estandarte gentilmente cedido pela direção do espaço para a exposição. A peça, confeccionada em veludo azul, continha adornos dourados que compunham o nome Turma OK. Na última noite da exposição ativamos essa obra estandarte para ela que nos conduzisse em procissão/caminhada pelas ruas da Lapa em direção à noite de celebração no clube Turma OK. Partimos em procissão/caminhada do Despina até o Turma OK, isto é, do Saara à Lapa, onde aconteceu a cuidadosa cerimônia de devolução da flâmula para o presidente do clube, Carlos Salazar Pereira Viegas.

convite para encerramento da mostra na Turma OK
A noite de encerramento tinha como tema uma homenagem a Luana Muniz, travesti e ativista pela causa trans, considerada a ‘Rainha da Lapa’. Luana, que falecera em maio daquele mesmo ano, ficou conhecida também pela célebre frase ‘Travesti não é bagunça!”. O encontro começou animadíssimo com um divertido jogo de bingo, cuja primeira rodada eu ganhei, o que gerou gritos de “marmelada!” por parte dos outros jogadores invejosos. Em seguida, a diva, Lorna Washington, apresentou uma série de números de transformistas, em meio a palavras carinhosas em memória de Luana Muniz, sua querida a amiga. Com a casa cheia e a audiência em êxtase, o transformismo continua sendo uma prática referencial para a cultura transviada no Brasil. Desejamos vida longa à Turma OK!

Trecho de transformista performando música de Ney matogrosso
Trecho de transformista da Turma OK performando Lisa Minelli
Coleção de filipetas Turma OK
Turma OK é um clube social gay que existe desde 1961 na Lapa no Rio de Janeiro, e é considerada o mais antigo grupo social transviado do Brasil em atividade, segundo descrição no website. Porém, entre o ano de 1969 e 1975, o clube permaneceu fechado por causa das ameaças de violências repressivas do período da ditadura militar. Hoje instalado no sobrado de um pequeno prédio na Rua dos Inválidos, a casa promove reuniões entre os sócios, recebe convidados e apoiadores para almoços, noites de bingo e espetáculos de variedades, onde os shows de go go boys e transformistas novatas e veteranas são a grande atração.
O nome “turma” era comumente usado nos anos 50 e 60 por homossexuais