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Maiêutica Raquel Mutzemberg

Maiêutica

Por: Raquel Mützenberg

Maiêutica é um partejar de ideias. Ideias que compõem um corpo-matéria que se dobra e desdobra, atualiza e condensa as fisicalidades e a plasticidade de seres em cena. O corpo é recurso material e plástico que se deixa dividir ou multiplicar pelas subjetividades femininas: a capacidade de renascer, de se re-parir. 

O processo Maiêutica é uma tentativa de “re-parir-se”, de renascer de si mesma. O material cênico foi coletado a partir do contato com gestantes, parturientes, doulas, notícias jornalísticas e discussões de grupos sobre parto humanizado, violência obstétrica e misoginia. A investigação iniciou como uma pesquisa acadêmica e se desdobrou em intercâmbios com artistas de distintas áreas, prevalecendo o diálogo interdisciplinar durante sua construção. 

Qual era sua intenção ao imaginar este trabalho?

Um parto de mim mesma. Quis viver uma reinvenção seguida da outra sem tempo para refletir profundamente, até ver a minha carne ser carne, sem pensamentos, sem julgamentos. E quis ver este corpo neste processo cíclico em contato com o mundo, por isso fui pra rua.

Como se deu a materialização?

A marionete foi uma escolha inicial, parti dela para pensar o corpo feminino e a gestação, o parto. Partilhei esse desejo num laboratório com vinte marionetistas do mundo todo organizado pela bonequeira Natacha Belova. Lá, copiei a minha cabeça em espuma/esponja. Pensei que meu corpo caberia totalmente numa boneca grávida que fosse eu mesma mas meu corpo era muito grande para entrar totalmente numa boneca em escala humana. Então saí e me tornei um espectro dela. Uma sobra. Uma sombra. Uma mulher atrás. Uma mulher em cima. A mulher que eu sou é quem? É quem eu quiser. Isso é muito culpa da Sueli Rolnik: quando ela aborda a noção de deleuziana de dobra há uma lógica marionética na sua liberdade de explicar os processos.

Como você vê seu trabalho hoje?

É um processo que se tornou infinito na minha vida… renascer, me reinventar. Tenho necessidade de me alterar e sei que é um processo de escutar, gestar e então exprimir. É como num processo de criação, por exemplo, de um espetáculo, mas aqui no caso é a minha existência que recrio. Não gosto de perceber que a vida pode se fixar num caminho predestinado. No meu passado de menina no interior profundo do Brasil, conheci uma violência banalizada e este é meu motor no momento. Escuto os desejos desse corpo que suou, apanhou e gritou… mas que aprendeu a renascer e se reinventar. É urgente alterar os sonhos quando estamos deprimidos e com medo de viver livremente. O método socrático da maiêutica é um caminho para encontrar um futuro possível no qual possamos acreditar. Eu me deprimo facilmente ao ver como funciona a lógica de um mundo sem futuro, e sentir meu corpo diminuir de vibração me faz chamar as amigas para peidar com a xavasca.

Que palavras conectam, colocam seu trabalho em relação com práticas, corpos, textos?

Meu jogo preferido é escutar o corpo e entender o que é sim, não e pode ser…  é lá que surgem possibilidades e desejos. Honestidade com os desejos é uma fonte de alegria infinita, meu surpreendo sempre ao brincar com o caminho desse desejo e o que ele pode nos fazer encontrar.

Raquel Mützenberg

Maiêutica é um partejar de ideias. Ideias que compõem um corpo-matéria que se dobra e desdobra, atualiza e condensa as fisicalidades e a plasticidade de seres em cena. O corpo é recurso material e plástico que se deixa dividir ou multiplicar pelas subjetividades femininas: a capacidade de renascer, de se re-parir. 

O processo Maiêutica é uma tentativa de “re-parir-se”, de renascer de si mesma. O material cênico foi coletado a partir do contato com gestantes, parturientes, doulas, notícias jornalísticas e discussões de grupos sobre parto humanizado, violência obstétrica e misoginia. A investigação iniciou como uma pesquisa acadêmica e se desdobrou em intercâmbios com artistas de distintas áreas, prevalecendo o diálogo interdisciplinar durante sua construção. 

Qual era sua intenção ao imaginar este trabalho?

Um parto de mim mesma. Quis viver uma reinvenção seguida da outra sem tempo para refletir profundamente, até ver a minha carne ser carne, sem pensamentos, sem julgamentos. E quis ver este corpo neste processo cíclico em contato com o mundo, por isso fui pra rua.

Como se deu a materialização?

A marionete foi uma escolha inicial, parti dela para pensar o corpo feminino e a gestação, o parto. Partilhei esse desejo num laboratório com vinte marionetistas do mundo todo organizado pela bonequeira Natacha Belova. Lá, copiei a minha cabeça em espuma/esponja. Pensei que meu corpo caberia totalmente numa boneca grávida que fosse eu mesma mas meu corpo era muito grande para entrar totalmente numa boneca em escala humana. Então saí e me tornei um espectro dela. Uma sobra. Uma sombra. Uma mulher atrás. Uma mulher em cima. A mulher que eu sou é quem? É quem eu quiser. Isso é muito culpa da Sueli Rolnik: quando ela aborda a noção de deleuziana de dobra há uma lógica marionética na sua liberdade de explicar os processos.

Como você vê seu trabalho hoje?

É um processo que se tornou infinito na minha vida… renascer, me reinventar. Tenho necessidade de me alterar e sei que é um processo de escutar, gestar e então exprimir. É como num processo de criação, por exemplo, de um espetáculo, mas aqui no caso é a minha existência que recrio. Não gosto de perceber que a vida pode se fixar num caminho predestinado. No meu passado de menina no interior profundo do Brasil, conheci uma violência banalizada e este é meu motor no momento. Escuto os desejos desse corpo que suou, apanhou e gritou… mas que aprendeu a renascer e se reinventar. É urgente alterar os sonhos quando estamos deprimidos e com medo de viver livremente. O método socrático da maiêutica é um caminho para encontrar um futuro possível no qual possamos acreditar. Eu me deprimo facilmente ao ver como funciona a lógica de um mundo sem futuro, e sentir meu corpo diminuir de vibração me faz chamar as amigas para peidar com a xavasca.

Que palavras conectam, colocam seu trabalho em relação com práticas, corpos, textos? 

Meu jogo preferido é escutar o corpo e entender o que é sim, não e pode ser…  é lá que surgem possibilidades e desejos. Honestidade com os desejos é uma fonte de alegria infinita, meu surpreendo sempre ao brincar com o caminho desse desejo e o que ele pode nos fazer encontrar.