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Os corpos são as obras

vera lucia santos e antonio manuel na ação o corpo é a obra
vera lucia santos e antonio manuel na ação o corpo é a obra

Vera Lucia Santos com Antonio Manuel. Fonte: Artur Freitas. 

Os corpos são as obras

Por: Guilherme Altmayer e Pablo León de la Barra

Em 1970, na abertura do 19º Salão Nacional de Arte Moderna (MAM-RJ), o artista Antonio Manuel se despiu e desfilou seu corpo nu pelo espaço, para apresentar seu corpo como uma obra que, mesmo não sendo selecionada pelo juri, ficou marcada como protesto contra as ações repressivas da ditadura militar – “um exercício experimental da liberdade”, nas palavras do crítico de arte Mário Pedrosa. Desde então, muitas foram as narrativas criadas em torno de “o corpo é a obra”, porém poucas mencionam que o artista executou a ação ao lado de outro corpo, semi nu: o de uma mulher, negra, de nome Vera Lúcia Santos.

Enquanto isso, do outro lado da rua, a Divisão de Censuras da Diversão Pública (DCDP) proibia explicitamente a participação de travestis em espetáculos e bailes de carnaval, entre outras ações repressivas executadas para garantir a preservação da “moral e bons costumes”, valores reacionários que alicerçam a “família-cristã”. Na literatura, a escritora Cassandra Rios teve 36 de suas obras censuradas sendo duramente perseguida. Na televisão, o programa ‘Denner é um luxo’ foi vetado por ser, segundo documento oficial, “tóxico para a juventude e que falta firmeza homérica em sua ausência total de masculinidade”.

Desde então, muita coisa mudou, mas nem tanto assim. Neste encontro estão presentes corpos sobre os quais regimes ditatoriais nunca deixaram de incidir, em diferentes medidas e desmesuras. Ditaduras que ganham novas formas, acobertadas pela falácia de uma democracia que serve ao patriarcado branco. Corpos atravessados por práticas normativas de uma sociedade classista, racista, patriarcal, machista, homolesbobitransfóbica que insiste em controlar nossos

Obras-corpo

espaço expositivo Os Corpos são as Obras
espaço expositivo Os Corpos são as Obras

Obras-corpo

Arquivo de registros das obras presentes na mostra Os Corpos são as Obras na Despina em 2017.

Obras-corpo provoca pensar um trabalho de arte como uma materialidade inseparável da corporeidade que a concebe; que ainda que ela possa ganhar distância e autonomia como obra, ela estará sempre em relação com a pessoa criadora.

A organização do espaço expositivo da mostra Os corpos são as obras na Despina se deu de tal forma que o espectador começasse a experiência por alguns arquivos históricos de resistências transviadas, notadamente iniciada com a flâmula da Turma OK, para, então, navegar entre trabalhos que pensam as ações da presente década. Comecemos nossa visita “gayada” pela mostra.

1. Turma OK

flamula clube social Turma OK

A primeira obra que se avistava, ao entrar nos limites expositivos da mostra, era a flâmula do clube social Turma OK, um estandarte gentilmente cedido pela direção do espaço para a exposição. A peça, confeccionada em veludo azul, continha adornos dourados que compunham o nome Turma OK. Na última noite da exposição ativamos essa obra estandarte para ela que nos conduzisse em procissão/caminhada pelas ruas da Lapa em direção à noite de celebração no clube Turma OK. Partimos em procissão/caminhada do Despina até o Turma OK, isto é, do Saara à Lapa, onde aconteceu a cuidadosa cerimônia de devolução da flâmula para o presidente do clube, Carlos Salazar Pereira Viegas.

Turma OK é o espaço LGBTQI mais antigo do Brasil: criado em 1961, ele está em atividade desde então,

Forma da liberdade

carlos motta forma da liberdade
carlos motta forma da liberdade

Forma da liberdade

Por: Carlos Motta e Guilherme Altmayer

A cronologia Forma da Liberdade recompila a história do triângulo rosa e outros emblemas de movimentos pelos direitos homossexuais no Brasil, Estados Unidos e Europa. São incluídos eventos importantes da história do ativismo homossexual, com ênfase no triângulo rosa como símbolo de liberação sexual. Pesquisa e compilação internacional por Carlos Motta e brasileira por Guilherme Altmayer.

“Os poderes mortos estão por todo lado – na floresta, cortando as canções; a noite na paisagem industrial, desperdiçando e endurecendo a nova vida; nas ruas da cidade, jogando fora o dia. Queríamos algo diferente para nossa gente: não encontrar uma velha e reacionária república, cheia de medos fantasmagóricos, medos da morte e medos de nascer. Queremos algo diferente” Muriel Rukeyser, A vida de poesia

Triângulo

Uma forma geométrica básica: um polígono de três lados ou vértices e três lados ou cantos, segmentos de linha.
Um emblema: uma imagem pictórica, abstrata ou representacional, que representa um conceito, como uma verdade moral ou uma alegoria.
Um símbolo: algo que representa uma ideia mas é distinto dela e sua proposta é comunicar significado.
Triângulo: uma forma, um emblema, e um símbolo de opressão e liberação: uma forma de liberdade.

Áudio da cronologia Forma da Liberdade no Campo Sonoro da 32a Bienal de São Paulo, 2016, lida por Guilherme Altmayer.

Uma linha do tempo:

1500

A prática da sodomia e sua condenação (1530) é trazida por colonizadores europeus para o Brasil. A prática encontra aqui terreno fértil pois era grande a liberdade nas práticas sexuais dos povos nativos.¹

1830

O Brasil descriminaliza a prática do sexo anal criminalizada por Portugal em 1530, ao não incluir no código penal do Império do Brasil qualquer referência a sodomia.²

1867

Em 29 de

Manicure Show NAVALHA

Navalha manicure show Ana Matheus Abbade

Manicure Show NAVALHA

Concepção e curadoria: Ana Matheus Abbade

Esta edição Manicure Show NAVALHA revelará por nós e para nós: gays: bichas: *trans: não-binárias: afeminad_s: masculin_s: lésbicas: corpos não conformados: gênero disruptivo: mulheres desgovernáveis: repito: nesta edição Manicure Show, NAVALHA trará a base de seu EXÉRCITO de NAVALHAS: aquilo em que trazemos em nossas BASE. TRÁ!

Imagem capa: Cybershot___

NAVALHA: manicure show

Bandeira NAVALHA Manicure Show por Ana Matheus Abbade

NAVALHA: manicure show Ana Matheus Abbade

19 horas. Ao som de Frozen2000, composta por Vera Lúcia e Junior Ferreira com repertório eclético entre funk carioca e pop americano de Daniela Avellar, com sentimentos eletrônicos da música house o público era estimulado a soltar o corpo e tomar consciência da potente reunião que ali se configurava.

Uhura Bqueer

Navalha Manicure Show Uhura Bqueer

Uhura Bqueer. Registro: Felipe Molitor

Após passar suas mãos pelas da manicure, com uma peixeira empunhada e na pele (sintética) de uma onça, Uhura Bqueer abre os trabalhos performáticos da noite. Drag queen/transformista paraense, Uhura promove duas performances de lip sync para as canções Piranha (1974) de Alypyo Martins e Curumim Chama Cunhatã Que Eu Vou Contar (Todo dia era dia de Índio) (1981), de Jorge Ben Jor. Ambas as canções evocam, em Uhura, a construção da nacionalidade em torno do corpo amazonense e de suas posições histórica e geográfica. Seu corpo é também assentamento político, conexão tecnoamazônica de passado e presente de luta e visões de futuro. 

A peixeira é um objeto que nos leva de volta a 1989, quando, durante audiência pública em Altamira (PA), foi discutido o projeto de construção do complexo hidrelétrico de Kararaô no rio Xingu, atual Belo Monte. Em um gesto de resistência que percorreu o mundo, a jovem índia Tuíra encostou a peixeira no rosto do então presidente da Eletronorte com um movimento rápido e preciso, para

Jornal Lampião da Esquina

Lampião da Esquina edição 32 janeiro 1981
Lampião da Esquina edição 32 janeiro 1981

Jornal Lampião da Esquina

O Lampião da Esquina, foi um jornal mensal que circulou nas bancas de todo o Brasil entre os anos de 1978 e 1981 – período do dito ‘abrandamento’ da ditadura militar. Edições originais do jornal foram exibidas na mostra Os corpos são as obras, gentilmente cedidas pelo grupo Arco ÍrisAs edições completas do jornal em formato digital, estão disponíveis para download, e em formato PDF pesquisável por palavra-chave, no arquivo do Centro de Documentação Pr. Dr. Luiz Mott do grupo Dignidade.

Com tiragem aproximada de 15.000 exemplares, em suas 38 edições, a publicação, parte da chamada imprensa alternativa, que se autodenominava ‘homossexual’, tratou, com profundidade jornalística, de questões políticas urgentes sobre repressão e liberdades não somente das populações ‘gueis’ (formação predominante do seu conselho editorial), mas também de travestis, lésbicas, negrxs, mulheres e povos originários. 

O Lampião é documento vivo do início da articulação e formação de muitos grupos e movimentos ativistas ‘desviados, entendidos’ e feministas, em São Paulo e outras regiões do país. Em suas páginas estavam presentes também questões que vão da masculinização das bichas, à mapas de pegação sexual no centro de São Paulo, da perseguição a frequentadores de cinemas pornô à matança sistemática das travestis,  da literatura lésbica de Cassandra Rios e a música de Leci Brandão à arte de Ney Matogrosso e Darcy Penteado.

No editorial de sua primeira edição de abril de 1978, o jornal anunciava, sua posição política sobre a questão homossexual, defendendo que

“é preciso dizer não ao gueto, e, em consequência, sair dele. O que nos interessa é destruir a imagem-padrão que se faz do homossexual, segundo a qual ele é um ser que vive nas sombras, que prefere a noite, que encara a sua preferência sexual como uma

Maiêutica

Maiêutica Raquel Mutzemberg
Maiêutica Raquel Mutzemberg

Maiêutica

Por: Raquel Mützenberg

Maiêutica é um partejar de ideias. Ideias que compõem um corpo-matéria que se dobra e desdobra, atualiza e condensa as fisicalidades e a plasticidade de seres em cena. O corpo é recurso material e plástico que se deixa dividir ou multiplicar pelas subjetividades femininas: a capacidade de renascer, de se re-parir. 

O processo Maiêutica é uma tentativa de “re-parir-se”, de renascer de si mesma. O material cênico foi coletado a partir do contato com gestantes, parturientes, doulas, notícias jornalísticas e discussões de grupos sobre parto humanizado, violência obstétrica e misoginia. A investigação iniciou como uma pesquisa acadêmica e se desdobrou em intercâmbios com artistas de distintas áreas, prevalecendo o diálogo interdisciplinar durante sua construção. 

Qual era sua intenção ao imaginar este trabalho?

Um parto de mim mesma. Quis viver uma reinvenção seguida da outra sem tempo para refletir profundamente, até ver a minha carne ser carne, sem pensamentos, sem julgamentos. E quis ver este corpo neste processo cíclico em contato com o mundo, por isso fui pra rua.

Como se deu a materialização?

A marionete foi uma escolha inicial, parti dela para pensar o corpo feminino e a gestação, o parto. Partilhei esse desejo num laboratório com vinte marionetistas do mundo todo organizado pela bonequeira Natacha Belova. Lá, copiei a minha cabeça em espuma/esponja. Pensei que meu corpo caberia totalmente numa boneca grávida que fosse eu mesma mas meu corpo era muito grande para entrar totalmente numa boneca em escala humana. Então saí e me tornei um espectro dela. Uma sobra. Uma sombra. Uma mulher atrás. Uma mulher em cima. A mulher que eu sou é quem? É quem eu quiser. Isso é muito culpa da Sueli Rolnik: quando ela aborda a noção de deleuziana de dobra há uma lógica marionética

Pornôpirata

Pornôpirata

Pós-porno e afronta à heteronormatividade compulsória

Por: Bruna Kury

Qual era sua intenção ao imaginar este trabalho?

Ao imaginar o trabalho me veio a vontade de expandir os imaginários em relação a sexualidade e o que permeia essa construção normatizadora. Pensando em sexualidade criativa e não hegemônica, corporalidades dissidentes com lugar de fala e desconstrução da norma. A popularização da póspornografia por um viés sudaka.

A venda de DVDs é acompanhada de diálogo num processo de interseccionalizar questões como raça, gênero, sexualidade, etc. Nesse mundo onde as relações são hierarquizadas e os desejos podados e condicionados a corpos hétero branco e cis, o projeto PORNOPIRATA (2017) foi criado para ser fonte de renda e autonomia na marginalidade; popularização da PÓS-PORNO e afronta a heteronormatividade compulsória, a idéia é participar de eventos e feiras principalmente na rua para mostrar que outro pornô é possível e muitas vezes nossos tesões estão condicionados.

Sexorcismos, pornoterrorismo, pós pornografia, glitterrorismo, sexualidades dissidentes, corpas não assimiláveis e marginalizadxs e oprimidxs, corpxs gordxs, travestis, ditas doentes, doentes, cyborgs, kuirs, sudakas, negrxs, indigenxs, trans, intersexs, com diversidades funcionais, ditas sujas, sujas, antiheterokapital. 

Como se deu a materialização do trabalho?

O projeto é criação minha mas não aconteceria se não fosse as parcerias e afetos nesse processo. Considero uma produção coletiva mesmo a curadoria dos vídeos sendo minha. As primeiras capas (dvd 1 e 2 contou com duas capas cada, feitas pelo artista Márcio Vasconcelos.

A terceira foi eu mesma que fiz e a quarta edição com curadoria em parceria com monstruosas e distro dysca teve capa feita pelas mesmas. Os DVDs são vendidos tanto por mim quanto por outras pessoas dissidentes dentro dessa rede póspornô, tendo como comum acordo o cuidado com a difusão do material. Na ocasião da banca na exposição

Curto-circuito de zines feministas 2015-2017

Camila Puni
Camila Puni

Curto-circuito de zines feministas 2015-2017

A instalação exibiu zines xerografados produzidos no período 2015-2017. Esses objetos de arte feminista fazem parte da pesquisa de doutoramento intitulada Itinerâncias zine-feministas: um mergulhar em datilografias de fúria & saudade, defendida em 2019. A exibição contou a história dos zines feministas brasileiros (com os próprios zines) encontrados em cidades como: Rio de Janeiro (grande Rio e Baixada), São Paulo-SP, Florianópolis-SC, Belo Horizonte-MG, Porto Alegre-RS, Curitiba-PR. Acompanhei a produção zinística por (e entre) redes de afeto e amizade-feminista. Mas por que são zines feministas? Porque são vozes, letras, rabiscos, colagens, HQ’s e poesias datilografadas com resistência, raiva, dor e sangue.

Curadoria de zines produzidos entre 2015-2017

Qual era sua intenção ao imaginar este trabalho?

Acredito que mais do que a possibilidade em imaginar tive foi uma oportunidade em organizar o material artístico que vinha recolhendo até o momento. O que para uma pesquisadora em pleno calor do campo, vale muitíssimo. A principal motivação em participar da exposição era de exibir, abrir o processo e tirar das pastas as autopublicações que estavam frescas, recém lançadas por diversas coletivas:

TESOURA, Maracujá Roxa, Drunken Butterfly, Feira Velcrx, TIAMAT, Efusiva Distro; eram identidades: sapatão, fancha, lesbiana, sapa-bi, sapa-mpb, lésbica vegana, sapatânike, preta-gorda, poliamorosa (ah! Como vocês são maravilhosaxs).

Assim, poder perceber como os zines agiam em contato com pessoas que nunca haviam visto um zine. Um super desafio já que os zines raramente circulam em galerias ou instalações artísticas. São encontrados nas ruas, em shows punks ou feiras autônomas. Deparei-me com a sensação de estar levando ao espaço Despina um objeto banido por sua fragilidade. Afinal, são algumas folhas de papel dobradas ao meio… em alguns casos, nem ao menos um grampo a segurá-los. São as delicadezas que rodeiam os

Hotspot

Hotspot Fabiana Faleiros
Fabiana Faleiros

Hotspot

Por: Fabiana Faleiros

Como se deu a materialização do trabalho?

Conecte-se faz parte do Mastur Bar. O Mastur Bar é uma coisa bem complexa, mas é um bar. Faço uma performance que se chama aula-show, sobre o gesto desmunhecar.  Gosto de investigar a corpa, notar como se movem as articulações, o que isso tem a ver com nossa ancentralidade cobra, o que tem a ver com os processos coloniais, e criar imagens que movem esse fluxo para outra direção. Na aula-show mostro, com palavras, músicas, imagens e objetos, como esse gesto foi construído como sendo um gesto do repertório feminino branco burguês e depois virou “ser um homem afeminado”. Munheca vem do espanhol, é boneca. A língua do colonizador dando nome pra uma parte do corpo. Eu vou contando a historia – ficção desse gesto com imagens da história da arte canônica a partir do século XVI até chegar nas imagens em que desmunhecar vira um gesto feminino (antes era apenas um gesto nobre). Isso acontece no final do século XVIII, quando aparece nas corpas das mulheres denominadas histéricas pelo diretor do Hospital Psiquiátrico Salpetriere, Charchot, que criou toda uma iconografia para coreografar a histeria como doença exclusivamente feminina. O orgasmo em condições clínicas “curava” as pacientes (sendo masturbada pelo médico). A desmunhecada estava em contratura (gesto que parece um soco pra dentro), bem longe do ventre. A revista Vogue, que surgiu no início do século XIV, depois dessa iconografia, sempre tinha uma mulher desmunhecando na capa. 

Daí chego na dança Vogue, que surgiu em Nova York, no Harlem, nos anos 60, sendo criada por corpas dissidentes de raça, classe e gênero, que subvertem o gesto. Misturado com o break dance, com a ginastica e outras danças afro-hispânicas, desmunhecar vira outra coisa, vira a

Ocupação Sertransneja

cordeis sertransnejos xica
cordeis sertransnejos xica

Ocupação Sertransneja

Por: coletivo Xica Manicongo e as menines da Casa Nem

Junho de 2017. A noite de abertura de Os Corpos são as Obras foi ocupada pelo coletivo Xica Manicongo e as menines da Casa Nem para uma noite Sertransneja com quadrilha travesti e leitura de cordéis.

SerTransneja Balaiera

Wescla Vasconcellos

Travesti que é balaieira
Roda no maracatu
e resiste com o corpo do balaio
Na flor do caju
Travesti é ser vivente
da sobrevida do sertão
enfrentar ódio indolente
é mais que aperreio, bala e facão
Foram chamar as trava da peste
Que é que há se eu vim do norstes
eu vim de lá
eu vim de lá
Roda balaieira
Vai rodando sem parar
Vai rodando no balaio
Na flor do maracujá
Axé maracatu elétrico
Axé meu povo nagô
Axé as trans de Aracatiaçu
Dança dança meu amor
(Tertuliana Lustosa e Wescla Vasconcellos)

Eu escolhi ser de verdade, e isso me faz grande nobre e real.

Biancka Fernandes

E embora, as vezes, dói menos que ficar,
Não sou do tipo orgulhosa, mas devo admitir, que desta vez eu tenho razão,
Não consigo levantar, caminhar, em direção ao desconhecido.
Conhecida sim, é a felicidade.
Vocês me deixam atordoados, e anestesiada, 
Afinal de contas, na minha frente, estão apenas corpos caídos
Identificados como meu futuro
E eu escolhi ser de verdade, 
E isso me faz grande nobre e real.
Sou Francisco, sou João, sou José, sou grito, sou a força, sou amor, sou a fé, sou o espírito revolucionário, sou Laruê do Exú, sou a negra, africana, sou o frevo, sou o sol potiguar, sou atriz, sou escrava, sou rainha, sou Maria, sou Joana, sou a Xica, que vive na ladeira da misericórdia, sou apenas cabelereira e PUTA.
Governo, você vai ter que admitir, 

Cine clube pós-pornô

erika sarmet pós-pornografia

Cine clube pós-pornô

Curadoria: Andiara Ramos, Nathalia Gonçales
Debate-bafo: Andiara Ramos Pereira, Nathalia Gonçales, Kleper Reis e Bibi Campos Leal.

Corpos dissidentes. Corpos como armas bélicas. Fabulações marginais de prazeres da carne. Um novo imaginário do corpo, do sexo e das práticas pornográficas. Eis o cineclube pós-pornô.

Programação:

Reivindico meu direito a ser um monstro

Susy Shock
Poema lido no Festival pela Despatologização das Identidades Trans na cidade argentina de La Plata, 2011.

Indecencia Transgenica

Marina Murta e Nina Rodrigues
Em uma noite de lua nova, duas sapatonas se unem para praticar conjuros contra o cistema normativo heterocapitalista. A força orgástica sapatão combatendo a dominação das terras e dos corpos dissidentes da heterossexualidade compulsória, incitando a rebeldia e resistência sapatanicas y agrofanchas.

Conjuro Sapatâniko

Marina Murta e Nina Rodrigues
Em uma noite de lua nova, duas sapatonas se unem para praticar conjuros contra o cistema normativo heterocapitalista. A força orgástica sapatão combatendo a dominação das terras e dos corpos dissidentes da heterossexualidade compulsória, incitando a rebeldia e resistência sapatanicas y agrofanchas.

Latifúndio

Érica Sarmet
Área demarcada, regulada e vigiada do Estado, o corpo é a nossa primeira propriedade privada. Vasto, amplo, oferece múltiplas possibilidades de criação e construção, mas acaba reduzido a práticas sexuais e corporais monocultoras. E se nós invadíssemos o corpo? Para a reforma agrária sexual você precisará de carvão, ovos e tinta vermelha.

Extética

nishmi
sobre adequar-se a padrões
sobre normalizar nossos corpos
(tamanha doutrina)
angústias estéticas há muito guardadas.
sobre liberdade.

Tarta nupicial

Lu Muzzin, Fernanda Guaglianone, Ph lau gam
Vídeo-registro de ação realizada na cidade argentina de La Plata, 2012. Um percurso por lugares historicamente utilizados como cenários para legitimar o ritual do casamento normativo.

‹ X-MɅNɅS ›

Clarissa Ribeiro
Recife, 2054. No submundo os dissidentes sexuais, bichas bandidas, travestis,

Noite do Corpo Nu Luz del Fuego

ilha do sol casa do corpo nu luz del fuego
ilha do sol casa do corpo nu luz del fuego

Noite do Corpo Nu Luz del Fuego

Um encontro de corpos nus, com visita a exposição. Cine clube com exibição do documentário A Nativa Solitária, que narra a trajetória de Luz del Fuego e seu pioneirismo ao trazer a prática do naturismo para o Brasil nos anos 1950.  

Noite do Corpo Nu, na próxima terça-feira, 25 de julho, a partir das 19.30h na Despina. 

IMPORTANTE: o nu será mandatório, para que todxs se sintam a vontade de se liberar de suas vestes. Teremos uma cachacinha para desinibir nossas carnes e um lugar para deixar suas roupas com segurança.

TRAJE: nu (mas pode trazer uma canga ou toalha para sentar)

PROPOSTA: uma noite solta, naturista, aberta para improvisos, falas e práticas do corpo com Kleper Reis e visita como viemos ao mundo à exposição. Cineclube com o filme ‘A Nativa Solitária’, sobre a diva Luz del Fuego, pioneira no naturismo no Brasil nos anos 1950 com participação da pesquisadora e curadora Nataraj Trinta.

A Nativa Solitária. Documentário de 1954 com direção de Francisco de Almeida Fleming sobre a história de Dora Vivacqua / Luz del Fuego, suas performances artísticas e sua relação com o naturismo e o primeiro clube naturista do Brasil na Ilha do Sol na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro. Uma das grandes feministas brasileiras precursora do movimento naturista brasileiro.

NÃO SERÁ TOLERADO:

machismo
racismo
etarismo
classismo
gordofobia
homolesbobitransfobia
e discursos de ódio de qualquer tipo!

Um encontro de corpos nus, com visita a exposição. Cine clube com exibição do documentário A Nativa Solitária, que narra a trajetória de Luz del Fuego e seu pioneirismo ao trazer a prática do naturismo para o Brasil nos anos 1950.  

Noite do Corpo Nu, na próxima terça-feira, 25 de julho, a partir das 19.30h na

Turma OK

Lorna Washington e as transformistas da noite Turma OK
Lorna Washington e as transformistas da noite Turma OK

Turma OK

Turma OK é um clube social gay que existe desde 1961 na Lapa no Rio de Janeiro, e é considerada o mais antigo grupo social transviado do Brasil em atividade, segundo descrição no website. Porém, entre o ano de 1969 e 1975, o clube permaneceu fechado por causa das ameaças de violências repressivas do período da ditadura militar. Hoje instalado no sobrado de um pequeno prédio na Rua dos Inválidos, a casa promove reuniões entre os sócios, recebe convidados e apoiadores para almoços, noites de bingo e espetáculos de variedades, onde os shows de go go boys e transformistas novatas e veteranas são a grande atração.

O nome “turma” era comumente usado nos anos 50 e 60 por homossexuais que promoviam reuniões em apartamentos para fins de diversão e socialização, uma vez que os encontros homossexuais em locais públicos eram socialmente rejeitados e proibidos. Nestas turmas, entre jantares, performances improvisadas e encenações de teatro, formavam-se fortes laços de solidariedade. Os aplausos eram substituídos pelo estalar dos dedos para que o barulho não chamasse a atenção dos vizinhos. Além do Turma OK, existiram vários outros grupos na cidade do Rio de Janeiro, como a Turma do Catete, Turma de Copacabana, Turma da Zona Norte, Turma do Leme, Turma da Glória, Turma de Botafogo e o Grupo Snob. Nas reuniões das turmas se construíam novas subjetividades, comportamentos e formas de conviver de homossexuais cariocas dos anos.

Segundo o pesquisador Rogério da Costa, em sua dissertação Sociabilidade homoerótica masculina no Rio de Janeiro na década de 1960: relatos do jornal O Snob (2010)o nome “turma” era comumente usado nas décadas de 1950 e 1960 por desviados e entendidos, que promoviam encontros em apartamentos para fins de diversão e socialização, uma vez que esse tipo