Os corpos são as obras
Vera Lucia Santos com Antonio Manuel. Fonte: Artur Freitas.
Os corpos são as obras
Por: Guilherme Altmayer e Pablo León de la Barra
Em 1970, na abertura do 19º Salão Nacional de Arte Moderna (MAM-RJ), o artista Antonio Manuel se despiu e desfilou seu corpo nu pelo espaço, para apresentar seu corpo como uma obra que, mesmo não sendo selecionada pelo juri, ficou marcada como protesto contra as ações repressivas da ditadura militar – “um exercício experimental da liberdade”, nas palavras do crítico de arte Mário Pedrosa. Desde então, muitas foram as narrativas criadas em torno de “o corpo é a obra”, porém poucas mencionam que o artista executou a ação ao lado de outro corpo, semi nu: o de uma mulher, negra, de nome Vera Lúcia Santos.
Enquanto isso, do outro lado da rua, a Divisão de Censuras da Diversão Pública (DCDP) proibia explicitamente a participação de travestis em espetáculos e bailes de carnaval, entre outras ações repressivas executadas para garantir a preservação da “moral e bons costumes”, valores reacionários que alicerçam a “família-cristã”. Na literatura, a escritora Cassandra Rios teve 36 de suas obras censuradas sendo duramente perseguida. Na televisão, o programa ‘Denner é um luxo’ foi vetado por ser, segundo documento oficial, “tóxico para a juventude e que falta firmeza homérica em sua ausência total de masculinidade”.
Desde então, muita coisa mudou, mas nem tanto assim. Neste encontro estão presentes corpos sobre os quais regimes ditatoriais nunca deixaram de incidir, em diferentes medidas e desmesuras. Ditaduras que ganham novas formas, acobertadas pela falácia de uma democracia que serve ao patriarcado branco. Corpos atravessados por práticas normativas de uma sociedade classista, racista, patriarcal, machista, homolesbobitransfóbica que insiste em controlar nossos afetos, bucetas e cus.
Assim sendo, este encontro propõe um diálogo entre algumas propostas dos anos 1970 e 1980 e uma geração de artistas e ativistas no Rio de Janeiro de hoje, trabalhando e repensando a ideia dos corpos-obra e obras-corpo como ferramenta política para desestabilizar normas e discursos hegemônicos. O título da exposição, que pluraliza o nome da obra a partir da qual esse debate é proposto, convoca a pensar em todos os corpos invisibilizados pela história, incluindo os muitos que não estão aqui presentes ou representados, pela história como ela nos foi contada.
Um chamamento à navegação por entre-lugares de corpos nus, cronologias de liberdade, jornais, zines, canais de YouTube, lambe-lambes, reforçadores de unhas, manifestos, pinturas, faixas e cartazes, colares, pós-pornografia, cordéis, práticas do corpo, quadrilha junina, técnicas de autodefesa, práticas de naturismo, pornopiratarias, perfomatividades e troca de afetos.
Por meio de proposições que nos convocam a pensar dissidências como potências representativas de resistências estéticas – enquanto movimentos de (re)fazer a si próprix, a um só tempo singular e múltiplo – passados e futuros se fazem presentes, em propostas polimórficas que confrontam e violam discursos normativos como ferramenta descolonizadora dos próprios corpos: ações micropolíticas de configuração de subjetividades transviadas.
Depressa, por favor, é tarde!
English version:
In 1970, at the opening of the 19th Modern Art National Salon at the Museum of Modern Art, MAM-RJ, the artist Antonio Manuel, undressed and catwalked naked through the space, presenting his own body as an art piece. Even though he was not selected by the jury, it remained as a protest against repressive actions of the military dictatorship – “an experimental exercise of freedom”, according to art critic Mário Pedrosa. Since then, many were the narratives created around “the body is the piece” – although very few of them mention that the artist performed side by side with another semi nude body: that of Vera Lúcia Santos, a black woman.
Meanwhile, across the street, the Public Entertainment Censorship Division,
explicitly prohibited the participation of transvestites in theatre performances and carnival balls, amongst other repressive actions which were executed in order to guarantee the preservation of moral and
good customs – reactionary values that are the foundation of the “christian Family”. At the same time, writer Cassandra Rios, had thirty six of her books censored and she was severely persecuted. The TV show ‘Denner é
um luxo’ (“Denner is a lux”) was cancelled because, according to an oficial document – “it is toxic for the youth and lacks strength due to total absence of masculinity.”
Since then, a lot has evolved, but not so in many cases. In this encounter, we gather bodies that are consistently controlled by a dictatorial regime that never ceased to exist. Dictatorships that gain new forms, protected by the fallacy of a democracy that serves the white patriarchy. Bodies crossed
by normative practices of a class-ridden, racial, patriarcal, chauvinistic, homo-lesbo-bi-trans-phobic society that insists in controlling our affections, pussies and arses.
Therefore, this meeting proposes a dialogue between
Forma da liberdade
Forma da liberdade
Por: Carlos Motta e Guilherme Altmayer
A cronologia Forma da Liberdade recompila a história do triângulo rosa e outros emblemas de movimentos pelos direitos homossexuais no Brasil, Estados Unidos e Europa. São incluídos eventos importantes da história do ativismo homossexual, com ênfase no triângulo rosa como símbolo de liberação sexual. Pesquisa e compilação internacional por Carlos Motta e brasileira por Guilherme Altmayer.
“Os poderes mortos estão por todo lado – na floresta, cortando as canções; a noite na paisagem industrial, desperdiçando e endurecendo a nova vida; nas ruas da cidade, jogando fora o dia. Queríamos algo diferente para nossa gente: não encontrar uma velha e reacionária república, cheia de medos fantasmagóricos, medos da morte e medos de nascer. Queremos algo diferente” Muriel Rukeyser, A vida de poesia
Triângulo
Uma forma geométrica básica: um polígono de três lados ou vértices e três lados ou cantos, segmentos de linha.
Um emblema: uma imagem pictórica, abstrata ou representacional, que representa um conceito, como uma verdade moral ou uma alegoria.
Um símbolo: algo que representa uma ideia mas é distinto dela e sua proposta é comunicar significado.
Triângulo: uma forma, um emblema, e um símbolo de opressão e liberação: uma forma de liberdade.
Áudio da cronologia Forma da Liberdade no Campo Sonoro da 32a Bienal de São Paulo, 2016, lida por Guilherme Altmayer.
Uma linha do tempo:
1500
A prática da sodomia e sua condenação (1530) é trazida por colonizadores europeus para o Brasil. A prática encontra aqui terreno fértil pois era grande a liberdade nas práticas sexuais dos povos nativos.¹
1830
O Brasil descriminaliza a prática do sexo anal criminalizada por Portugal em 1530, ao não incluir no código penal do Império do Brasil qualquer referência a sodomia.²
1867
Em 29 de agosto de 1867, Karl-Heinrich Ulrichs se torna o primeiro homossexual a se proclamar como tal e falar publicamente sobre direitos homossexuais ao reivindicar ao congresso alemão de juristas em Munique por uma anulação das leis anti-homossexuais.
1895
É publicada a obra Bom Criolo, o primeiro romance homossexual do mundo ocidental. Escrito por Adolfo Caminha, a novela trata da difícil relação entre dois membros da marinha, um negro foragido da escravidão e um grumete branco.
Fonte: Acervo Sânzio de Azevedo
1900
Nasce João Francisco dos Santos ou Madame Satã. Negro, pobre e assumidamente homossexual, morava e trabalhava como performista, cozinheiro e segurança na boêmia região da Lapa no Rio de Janeiro. Foi preso diversas vezes por furto, ultraje público ao pudor e porte de arma.³
1910
A ativista norte-americana Emma Goldman é a primeira a falar publicamente a favor de direitos homossexuais em seus discursos e textos.
1924
É fundada em Chicago a Sociedade de Direitos Humanos, primeira organização pelos direitos dos homossexuais. O movimento existiu por alguns meses antes de ser fechado pela polícia.
1934
É criada uma divisão secreta da polícia alemã para tratar com homossexuais. Um dos seus primeiros atos foi demandar “listas rosas” ao redor da Alemanha. Estas listas, que revelavam nomes de homossexuais masculinos, são compiladas desde 1900.
1935
O parágrafo 175 do código criminal alemão, que condenava práticas homossexuais, foi revisado por Adolf Hitler para incluir beijos, abraços, fantasias gays e atos sexuais entre homens.
1937-1940
25,000 gays condenados são presos forçadamente e levados a campos de concentração onde foram obrigados a usar um triângulo rosa invertido em seu uniforme. Durante os 12 anos do regime nazista, ao redor de 100.000 homens foram identificados em registros policiais como homossexuais, sendo 50.000 deles condenados por violar o parágrafo 175. Se fossem judeus gays, o nível mais baixo nos campos, eles usavam o triângulo invertido sobre a estrela de davi amarela.
1942
Hitler determina a morte como punição a homossexuais.
1946
Rudolf Klimmer, defensor radical dos direitos homossexuais na Alemanha Oriental pressiona a Organização dos Perseguidos pelo Regime Nazista para reconhecer as vítimas homossexuais e mais tarde conseguiu que fossem compensados pelo governo da Alemanha Oriental.
1948
Formado na Dinamarca o grupo homofílico Forbundet af 1948 (Liga de 1948)
1950s
Flâmula do Clube Turma OK
Nas décadas de 1950 e 1960 no Rio de Janeiro e São Paulo, encontros homossexuais aconteciam nas chamadas turmas, reuniões secretas em apartamentos para socialização e transformismo. A Turma OK, ainda em funcionamento no Rio de Janeiro, é hoje um clube para socialização e espetáculos transformistas. ⁴
1950
Fundado em Los Angeles The Mattachine Society, o primeiro grupo homofílico norte-americano. Em São Francisco é fundado o The Daughters of Bilitis, organizacão lésbica nacional pioneira. É formado o RFSL (Federacão Sueca para direitos das lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) na Suécia.
1962
A polícia do Rio de Janeiro proíbe o uso de “fantasia de travesti”. No carnaval de 1964, a polícia agride foliões com golpes de cassetete na entrada de bailes que
Jornal Lampião da Esquina
Jornal Lampião da Esquina
O Lampião da Esquina, foi um jornal mensal que circulou nas bancas de todo o Brasil entre os anos de 1978 e 1981 – período do dito ‘abrandamento’ da ditadura militar. Edições originais do jornal foram exibidas na mostra Os corpos são as obras, gentilmente cedidas pelo grupo Arco Íris. As edições completas do jornal em formato digital, estão disponíveis para download, e em formato PDF pesquisável por palavra-chave, no arquivo do Centro de Documentação Pr. Dr. Luiz Mott do grupo Dignidade.
Com tiragem aproximada de 15.000 exemplares, em suas 38 edições, a publicação, parte da chamada imprensa alternativa, que se autodenominava ‘homossexual’, tratou, com profundidade jornalística, de questões políticas urgentes sobre repressão e liberdades não somente das populações ‘gueis’ (formação predominante do seu conselho editorial), mas também de travestis, lésbicas, negrxs, mulheres e povos originários.
O Lampião é documento vivo do início da articulação e formação de muitos grupos e movimentos ativistas ‘desviados, entendidos’ e feministas, em São Paulo e outras regiões do país. Em suas páginas estavam presentes também questões que vão da masculinização das bichas, à mapas de pegação sexual no centro de São Paulo, da perseguição a frequentadores de cinemas pornô à matança sistemática das travestis, da literatura lésbica de Cassandra Rios e a música de Leci Brandão à arte de Ney Matogrosso e Darcy Penteado.
No editorial de sua primeira edição de abril de 1978, o jornal anunciava, sua posição política sobre a questão homossexual, defendendo que
“é preciso dizer não ao gueto, e, em consequência, sair dele. O que nos interessa é destruir a imagem-padrão que se faz do homossexual, segundo a qual ele é um ser que vive nas sombras, que prefere a noite, que encara a sua preferência sexual como uma espécie de maldição […] o que LAMPIÃO reivindica em nome dessa minoria é não apenas se assumir e ser aceito – o que nós queremos é resgatar essa condição que todas as sociedades construídas em bases machistas lhes negou: o fato de que os ‘homossexuais’ são seres humanos. […] Pretendemos, também, ir mais longe, dando voz a todos os grupos injustamente discriminados – dos negros, índios, mulheres, às minorias étnicas do Curdistão: abaixo os guetos e o sistema (disfarçado) de párias.”
Edições do Lampião da Esquina
Edições do Jornal O Lampião da Esquina expostas na mostra Os Corpos são as Obras no espaço Despina, Rio de Janeiro em 2017. Acervo: Grupo Arco-Íris
Pesquisas sobre o Lampião
Imprensa homossexual: surge o Lampião da Esquina
Carlos Ferreira.
Este artigo, através do contexto histórico da Imprensa Alternativa e da abertura política pós-Regime Militar (instalado em 1964), tem como objetivo analisar a criação, organização, distribuição e o relacionamento com os leitores das primeiras edições do jornal Lampião da Esquina, uma publicação voltada aos homossexuais que circulou durante 1978 e 1981. Utilizando as pesquisas, bibliográfica e documental, percebemos que o Lampião foi um jornal crítico, pluralista e partidário, que expôs o descaso e preconceito contra os homossexuais e as minorias sociais
Sexualidade homossexual no jornal Lampião da Esquina
Natanael de Freitas Silva e Natam Felipe de Assis Rubio
Artigo. Discutir e apresentar como as homossexualidades foram tematizadas, nomeadas e significadas no Brasil durante os anos 1978-1981. E para isso, iremos apresentar um debate historiográfico sobre o tema a partir de bibliografia pertinente, em seguida, enfatizamos o que era dito e entendido por homossexualidade à época, e por fim, exemplificamos como o Lampião da Esquina teceu e comunicou outros olhares sobre as homossexualidades.
Será que ele é? Sobre quando Lampião da Esquina colocou as cartas na mesa.
Marcio Leopoldo Gomes Bandeira
Dissertação de mestrado. A presente pesquisa tem por tema a problematização das subjetividades homossexuais em práticas de escrever cartas, enviá-las a um jornal e tê-las, posteriormente, publicadas. O jornal Lampião da Esquina circulou entre os anos de 1978 e 1981 por diferentes cidades brasileiras e publicou regularmente uma seção de cartas chamada Cartas na Mesa – corpus documental privilegiado nesta investigação.
O Lampião da Esquina, foi um jornal mensal que circulou nas bancas de todo o Brasil entre os anos de 1978 e 1981 – período do dito ‘abrandamento’ da ditadura militar. Edições originais do jornal foram exibidas na mostra Os corpos são as obras, gentilmente cedidas pelo grupo Arco Íris. As edições completas do jornal em formato digital, estão disponíveis para download, e em formato PDF pesquisável por palavra-chave, no arquivo do Centro de Documentação Pr. Dr. Luiz Mott do grupo Dignidade.
Com tiragem aproximada de 15.000 exemplares, em suas 38 edições, a publicação, parte da chamada imprensa alternativa, que se autodenominava ‘homossexual’, tratou, com profundidade jornalística, de questões políticas urgentes sobre repressão e liberdades não somente das populações ‘gueis’ (formação predominante do seu conselho editorial), mas também de travestis, lésbicas, negrxs,
Ocupação Sertransneja
Ocupação Sertransneja
Por: coletivo Xica Manicongo e as menines da Casa Nem
Junho de 2017. A noite de abertura de Os Corpos são as Obras foi ocupada pelo coletivo Xica Manicongo e as menines da Casa Nem para uma noite Sertransneja com quadrilha travesti e leitura de cordéis.
SerTransneja Balaiera
Travesti que é balaieira
Roda no maracatu
e resiste com o corpo do balaio
Na flor do caju
Travesti é ser vivente
da sobrevida do sertão
enfrentar ódio indolente
é mais que aperreio, bala e facão
Foram chamar as trava da peste
Que é que há se eu vim do norstes
eu vim de lá
eu vim de lá
Roda balaieira
Vai rodando sem parar
Vai rodando no balaio
Na flor do maracujá
Axé maracatu elétrico
Axé meu povo nagô
Axé as trans de Aracatiaçu
Dança dança meu amor
(Tertuliana Lustosa e Wescla Vasconcellos)
Eu escolhi ser de verdade, e isso me faz grande nobre e real.
E embora, as vezes, dói menos que ficar,
Não sou do tipo orgulhosa, mas devo admitir, que desta vez eu tenho razão,
Não consigo levantar, caminhar, em direção ao desconhecido.
Conhecida sim, é a felicidade.
Vocês me deixam atordoados, e anestesiada,
Afinal de contas, na minha frente, estão apenas corpos caídos
Identificados como meu futuro
E eu escolhi ser de verdade,
E isso me faz grande nobre e real.
Sou Francisco, sou João, sou José, sou grito, sou a força, sou amor, sou a fé, sou o espírito revolucionário, sou Laruê do Exú, sou a negra, africana, sou o frevo, sou o sol potiguar, sou atriz, sou escrava, sou rainha, sou Maria, sou Joana, sou a Xica, que vive na ladeira da misericórdia, sou apenas cabelereira e PUTA.
Governo, você vai ter que admitir,
a minha sobrevivência.
Quadrilha Setransneja promovida pelo coletivo Xica Manicongo
Junho de 2017. A noite de abertura de Os Corpos são as Obras foi ocupada pelo coletivo Xica Manicongo e as menines da Casa Nem para uma noite Sertransneja com quadrilha travesti e leitura de cordéis.
SerTransneja Balaiera
Travesti que é balaieira
Roda no maracatu
e resiste com o corpo do balaio
Na flor do caju
Travesti é ser vivente
da sobrevida do sertão
enfrentar ódio indolente
é mais que aperreio, bala e facão
Foram chamar as trava da peste
Que é que há se eu vim do norstes
eu vim de lá
eu vim de lá
Roda balaieira
Vai rodando sem parar
Vai rodando no balaio
Na flor do maracujá
Axé maracatu elétrico
Axé meu povo nagô
Axé as trans de Aracatiaçu
Dança dança meu amor
(Tertuliana Lustosa e Wescla Vasconcellos)
Eu escolhi ser de verdade, e isso me faz grande nobre e real.
E embora, as vezes, dói menos que ficar,
Não sou do tipo orgulhosa, mas devo admitir, que desta vez eu tenho razão,
Não consigo levantar, caminhar, em direção ao desconhecido.
Conhecida sim, é a felicidade.
Vocês me deixam atordoados, e anestesiada,
Afinal de contas, na minha frente, estão apenas corpos caídos
Identificados como meu futuro
E eu escolhi ser de verdade,
E isso me faz grande nobre e real.
Sou Francisco, sou João, sou José, sou grito, sou a força, sou amor, sou a fé, sou o espírito revolucionário, sou Laruê do Exú, sou a negra, africana, sou o frevo, sou o sol potiguar, sou atriz, sou escrava, sou rainha, sou Maria, sou Joana, sou a Xica, que vive na ladeira da misericórdia, sou apenas cabelereira e PUTA.
Governo, você vai ter que admitir,
a minha sobrevivência.
Cine clube pós-pornô
Cine clube pós-pornô
Curadoria: Andiara Ramos, Nathalia Gonçales
Debate-bafo: Andiara Ramos Pereira, Nathalia Gonçales, Kleper Reis e Bibi Campos Leal.
Corpos dissidentes. Corpos como armas bélicas. Fabulações marginais de prazeres da carne. Um novo imaginário do corpo, do sexo e das práticas pornográficas. Eis o cineclube pós-pornô.
Programação:
Reivindico meu direito a ser um monstro
Susy Shock
Poema lido no Festival pela Despatologização das Identidades Trans na cidade argentina de La Plata, 2011.
Indecencia Transgenica
Marina Murta e Nina Rodrigues
Em uma noite de lua nova, duas sapatonas se unem para praticar conjuros contra o cistema normativo heterocapitalista. A força orgástica sapatão combatendo a dominação das terras e dos corpos dissidentes da heterossexualidade compulsória, incitando a rebeldia e resistência sapatanicas y agrofanchas.
Conjuro Sapatâniko
Marina Murta e Nina Rodrigues
Em uma noite de lua nova, duas sapatonas se unem para praticar conjuros contra o cistema normativo heterocapitalista. A força orgástica sapatão combatendo a dominação das terras e dos corpos dissidentes da heterossexualidade compulsória, incitando a rebeldia e resistência sapatanicas y agrofanchas.
Latifúndio
Érica Sarmet
Área demarcada, regulada e vigiada do Estado, o corpo é a nossa primeira propriedade privada. Vasto, amplo, oferece múltiplas possibilidades de criação e construção, mas acaba reduzido a práticas sexuais e corporais monocultoras. E se nós invadíssemos o corpo? Para a reforma agrária sexual você precisará de carvão, ovos e tinta vermelha.
Extética
nishmi
sobre adequar-se a padrões
sobre normalizar nossos corpos
(tamanha doutrina)
angústias estéticas há muito guardadas.
sobre liberdade.
Tarta nupicial
Lu Muzzin, Fernanda Guaglianone, Ph lau gam
Vídeo-registro de ação realizada na cidade argentina de La Plata, 2012. Um percurso por lugares historicamente utilizados como cenários para legitimar o ritual do casamento normativo.
‹ X-MɅNɅS ›
Clarissa Ribeiro
Recife, 2054. No submundo os dissidentes sexuais, bichas bandidas, travestis, sapatonas boladas e todos os corpos marginalizados bolam um plano para destruir a cisheteronorma.
Lemebel
Joanna Reposi
O itinerário traçado pelo ativista, artista e escritor chileno Pedro Lemebel indica um caminho marcado pela dor, uma incursão pelas feridas de um passado que ainda insiste em fazer turno.
Coletivo Coiote e Anarcofunk na Cinelândia
Korpos enquanto armas bélicas. Matéria envolvente entre espaço-tempo. Desprogramadxs do desejo de consumo hetero-capital- cri$tão. Desejantes de um devir selvagem. Korpos em festa.
Andiara Ramos Pereira (Dee Dee) é membro da Coletiva Feminista Maria Bonita RJ, responsável pela organização da I Mostra Pós Pornô (R)Existentes e outros eventos de pós-pornografia na cidade do Rio de Janeiro. Compõe os grupos de pesquisa Práticas estético-políticas na arte contemporânea/UFF e Trauma, subjetividade e políticas de reconhecimento/UniRio. Possui pesquisa voltada para as intersecções entre Arte, Gênero e Política.
Nathalia Gonçales compõe o CineQueer e NuSex – Núcleo de Estudos em Corpos, Gêneros e Sexualidades. Atualmente é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisa temáticas relacionadas a ficções sexuais, arte, performance e políticas do corpo.
Corpos dissidentes. Corpos como armas bélicas. Fabulações marginais de prazeres da carne. Um novo imaginário do corpo, do sexo e das práticas pornográficas. Eis o cineclube pós-pornô.
Despina / Julho / 2017
Curadoria: Andiara Ramos, Nathalia Gonçales
Debate-bafo: Andiara Ramos Pereira, Nathalia Gonçales, Kleper Reis e Bibi Campos Leal.
Programação
Reivindico meu direito a ser um monstro
Susy Shock
Poema lido no Festival pela Despatologização das Identidades Trans na cidade argentina de La Plata, 2011.
Indecencia Transgenica
Hija de Perra & Perdida
Atenção! Se o sexo fora da ordem “natural” te ofende, se você é da opus dei, se você é homofóbico ou se sua moral não te permite, abstenha-se de ver este vídeo.
Conjuro Sapatâniko
Marina Murta e Nina Rodrigues
Em uma noite de lua nova, duas sapatonas se unem para praticar conjuros contra o cistema normativo heterocapitalista. A força orgástica sapatão combatendo a dominação das terras e dos corpos dissidentes da heterossexualidade compulsória, incitando a rebeldia e resistência sapatanicas y agrofanchas.
Latifúndio
Érica Sarmet
Área demarcada, regulada e vigiada do Estado, o corpo é a nossa primeira propriedade privada. Vasto, amplo, oferece múltiplas possibilidades de criação e construção, mas acaba reduzido a práticas sexuais e corporais monocultoras. E se nós invadíssemos o corpo? Para a reforma agrária sexual você precisará de carvão, ovos e tinta vermelha.
Extética
nishmi
sobre adequar-se a padrões
sobre normalizar nossos corpos
(tamanha doutrina)
angústias estéticas há muito guardadas.
sobre liberdade.
Tarta nupicial
Lu Muzzin, Fernanda Guaglianone, Ph lau gam
Vídeo-registro de ação realizada na cidade argentina de La Plata, 2012. Um percurso por lugares historicamente utilizados como cenários para legitimar o ritual do casamento normativo.
‹ X-MɅNɅS ›
Clarissa Ribeiro
Recife, 2054. No submundo os dissidentes sexuais, bichas bandidas, travestis, sapatonas boladas e todos os corpos marginalizados bolam um plano para destruir a cisheteronorma.
Lemebel
Joanna Reposi
O itinerário traçado pelo ativista, artista e escritor chileno Pedro Lemebel
Noite do Corpo Nu Luz del Fuego
Noite do Corpo Nu Luz del Fuego
Um encontro de corpos nus, com visita a exposição. Cine clube com exibição do documentário A Nativa Solitária, que narra a trajetória de Luz del Fuego e seu pioneirismo ao trazer a prática do naturismo para o Brasil nos anos 1950.
Noite do Corpo Nu, na próxima terça-feira, 25 de julho, a partir das 19.30h na Despina.
IMPORTANTE: o nu será mandatório, para que todxs se sintam a vontade de se liberar de suas vestes. Teremos uma cachacinha para desinibir nossas carnes e um lugar para deixar suas roupas com segurança.
TRAJE: nu (mas pode trazer uma canga ou toalha para sentar)
PROPOSTA: uma noite solta, naturista, aberta para improvisos, falas e práticas do corpo com Kleper Reis e visita como viemos ao mundo à exposição. Cineclube com o filme ‘A Nativa Solitária’, sobre a diva Luz del Fuego, pioneira no naturismo no Brasil nos anos 1950 com participação da pesquisadora e curadora Nataraj Trinta.
A Nativa Solitária. Documentário de 1954 com direção de Francisco de Almeida Fleming sobre a história de Dora Vivacqua / Luz del Fuego, suas performances artísticas e sua relação com o naturismo e o primeiro clube naturista do Brasil na Ilha do Sol na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro. Uma das grandes feministas brasileiras precursora do movimento naturista brasileiro.
NÃO SERÁ TOLERADO:
machismo
racismo
etarismo
classismo
gordofobia
homolesbobitransfobia
e discursos de ódio de qualquer tipo!
Um encontro de corpos nus, com visita a exposição. Cine clube com exibição do documentário A Nativa Solitária, que narra a trajetória de Luz del Fuego e seu pioneirismo ao trazer a prática do naturismo para o Brasil nos anos 1950.
Noite do Corpo Nu, na próxima terça-feira, 25 de julho, a partir das 19.30h na Despina.
IMPORTANTE: o nu será mandatório, para que todxs se sintam a vontade de se liberar de suas vestes. Teremos uma cachacinha para desinibir nossas carnes e um lugar para deixar suas roupas com segurança.
TRAJE: nu (mas pode trazer uma canga ou toalha para sentar)
PROPOSTA: uma noite solta, naturista, aberta para improvisos, falas e práticas do corpo com Kleper Reis e visita como viemos ao mundo à exposição. Cineclube com o filme ‘A Nativa Solitária’, sobre a diva Luz del Fuego, pioneira no naturismo no Brasil nos anos 1950 com participação da pesquisadora e curadora Nataraj Trinta.
NÃO SERÁ TOLERADO:
machismo
racismo
etarismo
classismo
gordofobia
homolesbobitransfobia
e discursos de ódio de qualquer tipo!
Turma OK
Turma OK
Turma OK é um clube social gay que existe desde 1961 na Lapa no Rio de Janeiro, e é considerada o mais antigo grupo social transviado do Brasil em atividade, segundo descrição no website. Porém, entre o ano de 1969 e 1975, o clube permaneceu fechado por causa das ameaças de violências repressivas do período da ditadura militar. Hoje instalado no sobrado de um pequeno prédio na Rua dos Inválidos, a casa promove reuniões entre os sócios, recebe convidados e apoiadores para almoços, noites de bingo e espetáculos de variedades, onde os shows de go go boys e transformistas novatas e veteranas são a grande atração.
O nome “turma” era comumente usado nos anos 50 e 60 por homossexuais que promoviam reuniões em apartamentos para fins de diversão e socialização, uma vez que os encontros homossexuais em locais públicos eram socialmente rejeitados e proibidos. Nestas turmas, entre jantares, performances improvisadas e encenações de teatro, formavam-se fortes laços de solidariedade. Os aplausos eram substituídos pelo estalar dos dedos para que o barulho não chamasse a atenção dos vizinhos. Além do Turma OK, existiram vários outros grupos na cidade do Rio de Janeiro, como a Turma do Catete, Turma de Copacabana, Turma da Zona Norte, Turma do Leme, Turma da Glória, Turma de Botafogo e o Grupo Snob. Nas reuniões das turmas se construíam novas subjetividades, comportamentos e formas de conviver de homossexuais cariocas dos anos.
Segundo o pesquisador Rogério da Costa, em sua dissertação Sociabilidade homoerótica masculina no Rio de Janeiro na década de 1960: relatos do jornal O Snob (2010), o nome “turma” era comumente usado nas décadas de 1950 e 1960 por desviados e entendidos, que promoviam encontros em apartamentos para fins de diversão e socialização, uma vez que esse tipo de reunião em locais públicos era socialmente rejeitado e reprimido pela polícia (Costa, 2010). Nas turmas – entre jantares, números de transformismo improvisados e encenações de teatro –, conformavam-se fortes laços de solidariedade.
Hoje instalada no sobrado de um pequeno prédio na Rua dos Inválidos, a casa promove reuniões e feijoadas entre os sócios. Ela também recebe convidados e apoiadores para eventos, espetáculos de variedades, nos quais shows de gogo boys e transformistas, novatas e veteranas, são a grande atração. Todo ano a casa elege o Rei e a Rainha Turma OK.
Noite de encerramento da mostra Os Corpos São as Obras na Turma OK
A primeira obra que se avistava, ao entrar nos limites expositivos da mostra Os Corpos são as Obras, era a flâmula do clube social Turma OK, um estandarte gentilmente cedido pela direção do espaço para a exposição. A peça, confeccionada em veludo azul, continha adornos dourados que compunham o nome Turma OK. Na última noite da exposição ativamos essa obra estandarte para ela que nos conduzisse em procissão/caminhada pelas ruas da Lapa em direção à noite de celebração no clube Turma OK. Partimos em procissão/caminhada do Despina até o Turma OK, isto é, do Saara à Lapa, onde aconteceu a cuidadosa cerimônia de devolução da flâmula para o presidente do clube, Carlos Salazar Pereira Viegas.
convite para encerramento da mostra na Turma OK
A noite de encerramento tinha como tema uma homenagem a Luana Muniz, travesti e ativista pela causa trans, considerada a ‘Rainha da Lapa’. Luana, que falecera em maio daquele mesmo ano, ficou conhecida também pela célebre frase ‘Travesti não é bagunça!”. O encontro começou animadíssimo com um divertido jogo de bingo, cuja primeira rodada eu ganhei, o que gerou gritos de “marmelada!” por parte dos outros jogadores invejosos. Em seguida, a diva, Lorna Washington, apresentou uma série de números de transformistas, em meio a palavras carinhosas em memória de Luana Muniz, sua querida a amiga. Com a casa cheia e a audiência em êxtase, o transformismo continua sendo uma prática referencial para a cultura transviada no Brasil. Desejamos vida longa à Turma OK!
Trecho de transformista performando música de Ney matogrosso
Trecho de transformista da Turma OK performando Lisa Minelli
Coleção de filipetas Turma OK
Turma OK é um clube social gay que existe desde 1961 na Lapa no Rio de Janeiro, e é considerada o mais antigo grupo social transviado do Brasil em atividade, segundo descrição no website. Porém, entre o ano de 1969 e 1975, o clube permaneceu fechado por causa das ameaças de violências repressivas do período da ditadura militar. Hoje instalado no sobrado de um pequeno prédio na Rua dos Inválidos, a casa promove reuniões entre os sócios, recebe convidados e apoiadores para almoços, noites de bingo e espetáculos de variedades, onde os shows de go go boys e transformistas novatas e veteranas são a grande atração.
O nome “turma” era comumente usado nos anos 50 e 60 por homossexuais